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segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Dalinha e Dideus - Diálogo Poético

DIDEUS SALES &

DALINHA CATUNDA

DS

Dalinha, quando degusto

A tua literatura,

Há momentos que me assusto

Com tanta desenvoltura.

Acho que tu és elétrica,

Pois produz muito, e a métrica

Agora está bem na linha!

O verso está bom de um jeito,

Que ao ver um verso bem feito,

Já penso que é de Dalinha.

DC

Dideus, eu fico contente

Com tua apreciação,

És um vate competente,

Esta é minha opinião.

Nos versos tu és atleta

Que traz a alma repleta

De inspiração e magia.

A tua maior riqueza,

Concentra-se na beleza

De difundir alegria.

DS

Com elegância e magia,

Sem pensamentos dispersos,

Dalinha borda em seus versos

As questões do dia a dia.

Com vigorosa poesia

Aborda hodiernos temas,

Alegrias e dilemas

Dos sertanejos valentes

São fortes ingredientes

Que temperam seus poemas.

DC

Tento cantar a riqueza

Natural do meu sertão,

E sem mudar a feição

Vou retratando a beleza

D’uma agreste natureza

Campesina a me encantar,

Lá das terras de Alencar

Onde a bonita palmeira

Chamada carnaubeira

Ensina o vento a cantar.

DS

Dalinha é cria silvestre

Nascida no sertão virgem,

Suas rimas têm origem

No florescer do campestre,

Foi Deus o eterno mestre

Que lhe doou este oásis,

O seu versejar tem bases

No encanto e na beleza,

Com a sábia natureza

Lhe ditando lindas frases.


DC

Sim, sou cria do sertão

E da natureza amante,

Até mudo meu semblante

Quando piso no meu chão,

Nos festejos de São João

Danço em volta da fogueira,

E como autêntica brejeira

Ponho um vestido de Chita

E um lindo laço de fita

Só pra desfilar faceira.

DS

Dalinha sempre altaneira

Merece aplauso e laurel

Por hastear a bandeira

Do verdadeiro cordel.

Poetisa inteligente,

Canta o berço e sua gente

Com a mais forte expressão

Do seu canto natural,

Como fez o magistral

Gerardo Mello Mourão.

DC

Dideus, teu canto bonito

É canto de sertanejo,

O verso vem num lampejo

Trazendo com ele um mito,

Assim seguimos o rito,

Cantando nosso rincão,

Escorados num Mourão

Da estirpe de Gerardo,

Com certeza o maior bardo

Que conheceu o sertão.

DS

A seca sem compaixão

Assola o meu Ceará,

Não se ouve o sabiá

Na caatinga do sertão,

O vento da precisão

Soprando desembestado,

O matuto apavorado,

Imerso em mar de quizília,

Sem feijão para a família,

Sem forragem para o gado.

DC

Apelando pro sagrado

O pobre faz oração,

Repleto de precisão

Se sentindo atordoado,

Na solidão do roçado

Pede chuva ao criador,

E o céu não muda de cor,

O sol queima a plantação

Ele chora e molha o chão,

Com seu pranto e sua dor.

DS

Remoendo dissabor,

Melancólico e pensativo

O lavrador, semivivo,

Sente na seca o pavor

De um panorama de dor

Num período de incerteza.

O campo perde a beleza,

O povo perde a esperança,

E até no olhar da criança

Se vê sinais de tristeza.

DC

Vendo toda esta aspereza,

Dói de fato o coração,

E o ressecado sertão

Vira solo sem riqueza.

Transforma-se a natureza,

E na vida campesina

A desgraça vira sina,

Vira dor que não tem jeito

Amargurando o sujeito

Que fraqueja e desatina.

DS

A campina sem folhagem,

Rios e açudes sem água,

O povo cheio de mágoa

Perde a fé e a coragem;

O fantasma da estiagem

Assusta o pobre roceiro,

E o combalido vaqueiro

Lacrimeja a triste sorte

Num quadro de vida e morte

Do Nordeste brasileiro.

DC

Já conheço este roteiro,

Percurso desagradável,

O lavrador miserável

Se lamenta o tempo inteiro,

Vendo o chão virar braseiro,

Sua cacimba afundar,

Já cansado de rezar

E de fazer simpatia,

Só lhe resta a apatia

Pois já cansou de chorar.

DS

Não quero mais lamentar

As mazelas da estiagem,

Nossa gente tem coragem,

Vai os males superar.

Pretendo agora cantar

As festas do meu sertão:

Xote, forró e baião

Animando minha terra

Com um tocador pé de serra

Nos festejos de São João.

DC

Na hora da animação

Nosso povo nordestino

Esquece o triste destino

E faz comemoração,

Brinca até de pé no chão

E a cabocla veste chita,

Nos cabelos bota fita

E de calça remendada

O matuto dá risada

Esquecendo da desdita.

DS

O sertanejo é tão forte

Que rir da própria desgraça,

Não há mazela que o faça

Perder o prumo e o norte,

Joga com as cartas da sorte

E quando o inverno presta,

O sertão vira uma festa

E a alegria renasce.

É muito feliz quem nasce

Numa terra como esta.

DC

Meu peito se manifesta

Reconhecendo esta senda

E pelejando desvenda

O que meu olhar atesta.

E se só cantar me resta,

Vou enchendo meu pulmão

Cantando com emoção

Minha nação agrestina

Que trago desde menina

Dentro do meu coração.

DS

Nesta contenda poética

Sem ideia destorcida

Vamos deixar esculpida

Nossa produção eclética

Nos painéis da cibernética,

Na feira, na academia...

Os versos com primazia

Simulam-nos paradigmas

No desvendar dos enigmas

Dos segredos da poesia.

DC

Entramos em sintonia

Nesta arena virtual,

Numa disputa atual

Lutamos com maestria.

Da peleja que fluía

Chegou a hora do adeus,

Muito obrigada Dideus,

Por esta oportunidade

De reunir de verdade

Meus versos aos versos teus.
*
Capa de Audifax Rios
Editado pela Queima - Bucha


2 comentários:

  1. Muito bom este cordel, que tive o privilégio de ler e reler em papel , presente que me foi dado pela co-autora. Obrigado, Dalinha. Fiquei feliz pela sua volta das férias. Senti muito sua falta e a falta da sua poesia.

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  2. Olá Fred,
    Eu acho que estas parcerias só nos enriquecem. Dideus é um poeta cearense que mora em Aracati, mas nasceu no sertão e tem a poesia na alma.
    Ser parceira de um Fred Monteiro, de um Dideus Sales só me enche de orgulho. Quero continuar com as estas parcerias. Também senti falta dos amigos e das trocas de versos.
    Meu abraço carinhoso,
    Dalinha

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