CORDEL DE SAIA publica o poema do confrade José Walter Pires. Narra os muitos sofrimentos da seca.
“AS VIÚVAS DA SECA”
São
chamadas dessa forma
Mulheres
abandonadas
No Nordeste
brasileiro
Embora
sendo casadas
Mas vivendo
sem maridos
E de
filhos, carregadas.
Isso ocorre
quando a seca
Se alastra pelo
sertão
E o Sol
queimando tudo
Deixa a
terra em exaustão
Com a fome
campeando
Matando sem
compaixão
Na miséria
dos casebres
Padecendo o
sofrimento
Sem água
para beber
Sem
qualquer um alimento
Crianças
morrendo à míngua
Em completo
desalento
A mãe,
coitada, sofrida,
Acomoda as
suas crias
Junto ao
corpo emagrecido
Com as
barrigas vazias
Esperando o
Deus dará
Na
constância dos seus dias
O pai,
sertanejo forte
Inteiramente
abatido
Vagueando a
imensidão
Com o seu
olhar perdido
Preso a um
fio de esperança
Dentro do
peito escondido
Lembra-se,
então, do compadre
Como a sua
salvação
Ir embora
pra São Paulo
A terra da
promissão
Deixando a
mulher e filhos
Sob a sua
proteção
Dessa
forma, decidido,
E o coração
palpitante
Chamou a
mulher e disse:
— Serei
mais um retirante
Vou em
busca de outra vida
Numa terra
mais distante.
— Não dá
mais para ficar
Padecendo
nesse amém
Vou, mas voltarei
depois
Pra levar
vocês também
Se ficar só
resta a morte
Nessa terra
de ninguém.
Ouvindo
aquela notícia
A mulher
entristeceu
Com os olhos
marejando
Soluçante,
respondeu:
— Não há
mesmo o que fazer
Do destino
que Deus deu!
A procura do Compadre
Dali saiu o
marido
Entre todos
do lugar
Era o mais
bem sucedido
Sempre
tirando proveito
De quem
fizesse um pedido
— Compadre,
venho pedir
Uma ajuda
do Senhor
Não tenho
do que viver
Só restando
a minha dor
Como
padrinho do menino
Não me
negue esse favor
O compadre
ouvindo aquilo
Com seus
botões matutou:
— Vem mais
uma pra meu prato
Dissimulado,
indagou:
— Então
diga o que deseja
Porque
negar nunca vou!
— Vou
embora pra São Paulo
Para poder
trabalhar
Vou deixar
mulher e filhos
Para o
Senhor ajudar
Assim que
chover eu volto
Para poder
lhe pagar.
— Compadre
não se avexe
Pode tratar
da partida
Deixe a Cmadre
e os meninos
Que darei toda
guarida
Lá irei pra
consolar
Na hora da
despedida
Assim foi o
retirante
No primeiro
caminhão
Levando além
de esperança
Saudade no
coração
Agradecido
ao Compadre
Por toda a
sua atenção.
No outro
dia, de manhã,
O Compadre
já estava
Lá na casa
da Comadre
Que saudosa
se encontrava
Porém,
muito confiante,
Pra entrar
o convidava
Os dias
foram passando
E as
visitas mais frequentes
Conversa
mais animada
Pra os
meninos, presentes
Um
cafezinho cheiroso
Os dois
tomavam contentes
A bem dizer
a Comadre
Não era de
jogar fora
Com um
pouco mais cuidada
Mudaria sem
demora
O Compadre
pressentia
Estava chegando
a hora
Numa tarde
decidido,
Estando com
ela só
Ele, então,
lhe perguntou
Sem piedade
e sem dó:
— “Nóis transa ou bebe café?”
— “Cumpade, acabou o pó!
Desse dia para
frente
A coisa
degringolou
A Comadre
mais catita
No sertão
desabrochou
O Compadre
ali transando,
Até quando
ele brochou!
José Walter
Pìres
Fevereiro
2010
Olá Zé Walter,
ResponderExcluirGostei dos seus versos, vi muito esta realidade no Nordeste. Era assim mesmo que acontecia.
Meu abraço.