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terça-feira, 4 de outubro de 2011

Biblioteca Amadeu Amaral: um acervo bem cuidado

CORDELTECA/Bbiblioteca Amadeu Amaral/CNFCP/Iphan/MinC
Memória da literatura de cordel - coleção de folhetos de cordel

CORDELTECA/BAA/CNFCP/Iphan/MinC
Memória da literatura de cordel - coleção de folhetos de cordel

A Biblioteca Amadeu Amaral integra o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular/IPHAN. Criada em 1961, a partir de proposta do pesquisador Edison Carneiro, congrega acervo na área de folclore e antropologia cultural em vários suportes, dentre eles a poesia popular impressa na forma de folhetos de cordel.
Essa coleção, uma das mais importantes do país, é constituída basicamente a partir de doações e trocas de instituições e poetas, de várias partes do Brasil.
Em 1984 tem início o projeto: Memória da Literatura de Cordel, objetivando seu tratamento técnico: com registro, catalogação, indexação e acondicionamento em caixas especialmente confeccionadas para sua guarda, e sua recuperação ainda em base manual, com emprego de fichas em catálogo de autor e título.
Com o desmonte ocorrido na área de cultura, durante o governo Fernando Collor de Mello, no período de 1990 a 1994, o Centro, então Coordenação de Folclore e Cultura Popular, tem parte de suas atividades paralisadas. O tratamento técnico da coleção de folhetos de cordel é retomado somente em 1996, com a catalogação, agora informatizada, utilizando o Código de Catalogação Anglo-Americano (AACR-2), e indexação norteada pelo Tesauro de Folclore e Cultura Popular Brasileira desenvolvido por equipe multidisciplinar do CNFCP. Ao final do exercício de 1999, esse trabalho é concluído com a disponibilização de 3 mil e oitocentos títulos na base de dados da Funarte.
Essa coleção hoje totaliza mais de 8 mil títulos, possui relevância pela abrangência dos temas tratados – romances, cantorias, desafios, cangaço, religiosidade popular, fatos do cotidiano, fatos políticos, dentre outros; o valor de autores de renome no campo da literatura de cordel – Leandro Gomes de Barros, Francisco das Chagas Batista, Cordeiro Manso, João Martins de Athayde, Rodolfo Coelho Cavalcante, Cuíca de Santo Amaro, dentre tantos de relevância para o cenário da literatura de cordel no Brasil; à raridade de determinados títulos. O Centro possui títulos que datam de 1908 até os mais contemporâneos; e, editores, que sedimentaram e difundiram a poesia de cordel ao longo dos anos através de suas publicações, buscando sempre a manutenção viva da memória do cordel brasileiro e de seus autores. Em 1992 são incorporados 1001 folhetos, adquiridos da coleção de Manuel Diégues Júnior.
A maioria dos folhetos da coleção é composta em versos. Entretanto com base na dissertação apresentada ao mestrado em Antropologia Cultura do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFPE, por Ruth Trindade de Almeida, em 1981, entendemos ser apropriada a utilização da mesma metodologia de incorporação para os calendários e almanaques em prosa, que têm vários pontos em comum com a produção em versos, tais como: aspectos tipográficos, paginação, sistema de vendas, autoria, linguagem e conteúdo, destacando-se a utilização de versos tanto na capa, quanto em seu interior, como no Almanaque do Nordeste brasileiro para o ano de 1958, em que Manoel Luiz dos Santos anuncia (em sextilhas) seu primeiro almanaque composto em prosa:

Vou mudando a oração
Das linhas do pensamento
Para o juízo do ano
Que mostra mais fundamento
Em prosa do que em verso
pr’a seu conhecimento.

A BAA possui hoje 7 acervos Digitais: Hemeroteca, Cordelteca, Xiloteca, Revista Brasileira de Folclore, Catálogos da Sala do Artista Popular, disponíveis para consulta no sítio www.cnfcp.gov.br; e, na rede mundial de computadores. Está também disponível, on-line, o Tesauro de Folclore e Cultura Popular Brasileira, lançado em sua segunda versão em 2006, ferramenta que norteia todo o processo de indexação da Biblioteca.

Processo organização, de catalogação e indexação e guarda da coleção:

O processo de organização da Cordelteca obedece aos critérios técnicos como: considerar, minuciosamente, pontos comuns e distintos entre cada grupo de folhetos, privilegiando informações que evidenciem a diversidade dessa produção literária, contemplando tanto a ‘poesia improvisada’ (versos cantados – cantorias, desafios, etc.) quanto a ‘poesia de composição’ (dos ciclos temáticos) e os textos em prosa (almanaques e calendários).
Estabelecemos três aspectos básicos: a forma de apresentação e composição dos folhetos, procurando evidenciar o aspecto físico do folheto, identificando ilustrações como desenhos, reproduções de fotos e xilogravuras; o conteúdo, procedendo indexação norteada pelos grandes grupos de assuntos referentes à literatura de cordel como: abecês, romances, contos, religiosidade popular, personalidades do contexto social e político, fatos do cotidiano, cantoria, desafios, etc., entre os temas mais recorrentes; e, as questões autorais, talvez a mais delicada no tratamento e abordagem dos folhetos de cordel. São inúmeros os equívocos quanto à autoria e propriedade. É comum verificarmos tipógrafos assinando como autores de versos de outros autores, o que dificulta, com freqüência, a determinação da verdadeira autoria. Assim, uma vez que em muitos folhetos catalogados não foi possível afirmá-la com exatidão, optamos pela informação editada na capa do folheto, deixando para o pesquisador a tarefa de analisar a autenticidade ou não das autorias. Para facilitar as pesquisas procuramos assinalar, no campo da Notas principais de nossa planilha o acróstico, um dos meios de identificação de autoria usado na literatura de cordel; e, no campo de Outros autores, a referência ao editor proprietário, aquele que detém os diretos de propriedade comercial da obra.
O processo de catalogação e indexação obedece aos critérios de organização alfabética dos títulos; composição do acervo de, no máximo, três exemplares de cada, ficando os excedentes destinados a atividades de intercâmbio com cordelistas e instituições que têm acervos de literatura de cordel; incorporação de títulos de edições diferenciadas, como título novo; organização dos arquivos em ordem numérica seqüencial; e, digitação em ‘word’ dos folhetos fotocopiados. Todos os folhetos são registrados em livro de Registro Patrimonial, com data de entrada na biblioteca, autor, título e ano de publicação, se houver. O registro patrimonial é colocado na primeira página do folheto com lápis 3B ou 6B. Anotamos também se o folheto pertence a alguma coleção especial, comprada ou doada para a biblioteca, como é o caso das coleções Manuel Diégues Júnior.
As etapas da catalogação obedecem ao preenchimento de Base de Dados. Atualmente a Biblioteca utiliza o softewear: www.elysio.com.br/ , PHL - Personal Home Library © 2001-2006 Elysio M.S.Oliveira, com adaptações especiais para os conteúdos da coleção, configurando a ficha catalográfica, conforme exemplo exposto abaixo:
C5615
Dalinha Catunda [Maria de Lourdes Aragão Catunda]. Furdunço no galinheiro. Rio de Janeiro : Academia Brasileira de Literatura de Cordel, 2009. 8 p.
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Toda a coleção foi higienizada e acondicionada mediante convênio firmado entre a Funarte e a Secretaria de Patrimônio, Museus e Artes Plásticas.
Finalizada a etapa de catalogação, é o momento de dar continuidade aos trabalhos de digitalização de acervos já iniciados, em 1998, com a Hemeroteca, que digitalizou, por meio de projeto aprovado pela Vitae, mais de 60 mil recortes de jornais sobre o universo da cultura popular. No lastro desse projeto apresentou-se, em 2000, o projeto Preservação da Memória Popular: xilogravuras e folhetos de cordel, que também aprovado, pela Vitae, foi executado em 2001/2002.
A digitalização da coleção de folhetos de cordel teve como objetivo a preservação física dos originais e a divulgação do acervo com qualidade digital, buscando maior agilidade e precisão na oferta dos serviços ao público usuário.
A execução do projeto Preservação da Memória Popular, em sua primeira fase, obedeceu as etapas de escanear mais de 6 mil folhetos, gerando 60.000 mil imagens, com indexação das palavras nos textos para posterior recuperação; copiar o produto final para o banco de imagens, possibilitando a pesquisa dos usuários nos espaços do CNFCP (intranet); e, na rede mundial de computadores por meio do sítio do CNFCP : www.cnfcp.gov.br, gravar o material processado em cds; e editar o Caderno técnico n° 1 - Catalogação de folhetos de cordel/CNFCP/IPHAN/MinC (Maria Rosário Pinto), com o objetivo de padronizar as informação básicas para a catalogação, indexação e disponibilização em Banco de Dados, visando facilitar a busca dos usuários.
CLIC NO LINK.

O tratamento técnico iniciado em 1996, oferece condições de continuidade às futuras incorporações. Atualmente, caminhamos para a 4ª versão da Cordelteca Digital, com mais de 8 mil registros.
Com o objetivo de ampliar e divulgar novos títulos a Biblioteca Amadeu Amaral mantém em constante atualização: cadastro de instituições, pesquisadores e de cordelistas no Brasil e no exterior, interessados na troca de folhetos e na difusão da literatura de cordel. O tratamento dado à coleção possibilitou o recebimento da coleção pessoal do professor Bráulio Nascimento, que trouxe para o acervo da Biblioteca Amadeu Amaral cerca de 1.500 títulos.
A difusão da Cordelteca Digital ampliou, consideravelmente, o interesse da comunidade de cordelistas, aumentando o volume de doações/trocas recebidas. A comunicação da Biblioteca com a Academia Brasileira de Literatura de Cordel é rotineira, bem como com demais associações e poetas espalhados por todo o país. Com a publicação do Caderno técnico - Catalogação de folhetos de cordel, tivemos como objetivo aproximar as instituições que detenham acervos similares.
Entendemos que as metas de organização, preservação, tratamento e divulgação vêem sendo alcançadas, especialmente no que diz respeito à ampliação do público usuário, bem como da interface entre instituições detentoras de acervos similares.
Texto e foto : Maria Rosário Pinto
Responsável pela Cordelteca da BAA/CNFCP/IPHAN
Membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel
Cadeira patronímica do poeta e editor José Bernardo da Silva

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