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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

MOREIRA DE ACOPIARA E SEU MULHERÃO

Rosário Pinto, Moreira de Acopiara e Dalinha Catunda

MOREIRA D ACOPIARA E SEU MULHERÃO
Moreira de Acopiara, poeta e cordelista bem atuante na literatura de cordel, membro da ABLC, faz parte da Caravana do Cordel, está sempre viajando, ministrando palestras, oficinas e encantando os amantes da cultura popular com suas declamações.
Hoje Moreira de Acopiara chega ao Cordel de Saia nos trazendo seu “MULHERÃO”  que eu faço questão de apresentar aos leitores deste blog, desfrutem!
Mulherão
Moreira de Acopiara

Peça a um homem da sua geração
Que descreva o que é um mulherão,
Que por certo ele afirme sem ressábios:
“Mulherão deve ter seios graúdos,
Empinado bumbum, lábio carnudos
E um sorriso bonito nesses lábios.

Deve ter um e oitenta de altura,
Pernas grossas, ser fina de cintura,
Possuir olhos claros, mãos de fada.
Deve usar uns decotes generosos,
Saias curtas, ter dedos buliçosos
E gostar de curtir a madrugada”.

Mulherão desse tipo é coisa rara.
Porém, quando puder, pergunte para
Qualquer outra mulher, que, com razão
Ela vai refletir, se precaver,
E com voz de princesa responder
Com clareza o que é um mulherão:

“Mulherão é mulher sendo menina.
E você não encontra em toda esquina,
Mas tem muitas e muitas por aí.
Mulherão é aquela que, sem medo,
Vai à luta até tarde, acorda cedo,
E descasca qualquer abacaxi.

Mulherão é aquela que trabalha,
Vai de ônibus e volta, mas não ralha,
Mesmo quando o cansaço lhe consome.
Quando enfim acha um jeito de voltar
Topa um tanque de roupas pra lavar
E uma prole sentindo muita fome.

Mulherão é aquela que, tranquila,
Passa horas e horas num fila
Garantindo a matrícula das crianças.
E é aquela senhora aposentada
Que apesar de ser mal remunerada
Não se entrega nem perde as esperanças.

Mulherão é a jovem secretária
Que tão bem assessora a empresária,
E só falta morrer quando se engana.
Numa empresa precisa trabalhar,
E a família tem que administrar
Todos os sete dias da semana.

Mulherão se depila, se maquia,
Se penteia pra ir à padaria,
Passa cremes, caminha e se perfuma.
Usa salto, usa meia-calça, malha,
Faz dietas, e quando se atrapalha
Até sofre, mas diz: Errou? Assuma!

Mulherão leva os filhos para a escola,
Pro balé, natação, jogo de bola,
Vai buscar, bota a janta e diz que ama.
E se acaso algum deles cai doente
A coitada não dorme e, impaciente,
Fica de sentinela ao pé da cama.

Mulherão faz serviços voluntários,
Leciona, tem gestos solidários,
Quando sente um efeito estuda a causa,
Planta, colhe, opera e apascenta,
Corta o pão, dá receitas e inda enfrenta
Menstruação, TPM e menopausa.

Mulherão quando vê o seu marido
Fatigado, com o corpo dolorido,
Coça os pés, faz massagem e tira a dor.
Sabe sempre onde cada coisa está,
E é com muito capricho que se dá
No momento sublime do amor”.

Lumas, Brunas, Luanas, Feiticeiras,
Carlas, Sheilas... São lindas brasileiras,
Detentoras de graça e simpatia.
Mas, mulher de verdade, mulherão,
Imponente em qualquer situação
É quem mata um leão a cada dia.
*
Este poema de Moreira de Acopiara faz parte do livro: O Sertão é meu lugar e poderá ser adquirido através do e-mail: m.acopiara@uol.com.br


referência bibliográfica do livro:

Acopiara, Moreira de. O sertão é meu lugar. São Paulo: Duna Dueto, 2011.

Foto e notas: Dalinha Catunda
Versos: Moreira de Acopiara

4 comentários:

  1. Querida Dalinha, Feliz 2012!
    Seu blog continua muito bom.
    Como sempre divulgo o trabalho do Moreira na Rádio Aroeira, tomei a liberdade de publicar esta matéria do seu blog também.
    Depois quando poder dê uma olhada na Rádio aroeira, é um trabalho simples mais bem legal!!

    Forte abraço.
    www.radioaroeira.com
    Uma sintonia diferente.

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  2. Olá Rivaldo,
    Obrigada pela visita, O intuito maior do Cordel de Saia é agregar poetas.
    Moreira tem sido muito participativo nos eventos da ABLC, tem elegância nas palavras e merece nosso apreço.
    Sempre que acahar por bem publicar textos do Cordel de Saia, fique a vontade.
    Estou no Ceará com uma internet improvisada mas vou dr uma olhadinha na Rádio Aroeira.
    Um abraço,
    Dalinha

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  3. Querida parceira do Cordel de Saia,

    Não posso me furtar ao comentário de Mulherão, de Moreira de Acopiara, poeta completo. Percorre os temas do sertão e do urbano. É sensível (Antonio Houaiss diz: “capaz de sentir e captar o que existe e de expressá-lo”); elegante (“que se caracteriza pela harmonia, leveza ou naturalidade”). Moreira fala de um “mulherão” com leveza, graça e responsabilidade.
    Nestas sextilhas em decassílabos demonstra todo o seu domínio na arte da composição poética. Parabéns pela postagem.
    Rosário

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  4. parabéns poeta! Apresento-lhe um de minha autoria:

    Essa, sim, é um mulherão!

    Peço aqui a sua atenção
    Para o que vou escrever
    Prestar a minha homenagem
    E com orgulho dizer
    Tem força extraordinária
    É batalhador esse ser.

    Trabalha de todo jeito
    Nada faz se envergonhar
    O que importa pra ela
    É o seu pão arranjar
    Não tem homem neste mundo
    Pra com ela comparar.

    Quando falo da mulher
    Também não posso esquecer
    Tem aquelas impulsivas
    Que gente, eu vou lhe dizer
    Até mancham o nosso nome
    Mas isso vamos esquecer.

    Quero pensar na mulher
    E de sua força falar
    Sua grandeza começa
    Por Jesus Cristo gerar
    Se o homem pensasse assim
    Iria nos valorizar.

    Destrincho em cada estrofe
    De cada uma um poder
    Primeiro o de ser mãe
    Que nos faz engrandecer
    É uma missão tão forte
    Só quem é mãe vai saber.

    Temos mulher operária
    Também mulher enfermeira
    Tem mulher comerciante
    E também a lavadeira
    Temos as advogadas
    E juízas de primeira.

    Mostro agora a professora
    Que seu filho vai educar
    Suportando cada uma
    Você precisa escutar
    Mas às vezes com paciência
    Faz esse jovem estudar.

    Aliás, a paciência
    É da mulher uma virtude
    Vive em qualquer ambiente
    Mostra a sua magnitude
    Muitas vezes por alguém
    Acaba a sua juventude.

    Tem mulher policial
    Chegando a ser delegada
    Não tem medo do bandido
    E assim bem arrumada
    Trabalha no meio dos homens
    Sempre bem observada.

    Para ser independente
    A mulher quer trabalhar
    Trabalha fora de casa
    Pra o seu dinheiro ganhar
    Mas também se preparando
    Pro seu trabalho dobrar.

    Varre casa, faz comida
    Muita roupa pra lavar
    Engoma e passa pano
    Pra sua casa cheirar
    Cuida do marido e filho
    E ainda quer trabalhar.

    Muito homem não entende
    Na mulher esse querer
    Ficar só em casa sufoca
    Podia o povo entender
    Que a mulher também precisa
    Com outras pessoas conviver.

    Fazer novas amizades
    Para muito refrescar
    E quando chegar em casa
    As tarefas agüentar
    Ficar bem pro seu marido
    E ter o que conversar.

    Esta, sim, merecedora
    Do tal termo "mulherão"
    Sua bravura é digna
    Florido é o seu coração
    Nele tem cheias e secas
    Os recheios da emoção.

    Nelcimá Morais


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