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segunda-feira, 13 de setembro de 2021

ALDEMÁ DE MORAIS E DALINHA CATUNDA - PELEJA -


 ALDEMÁ DE MORAIS E DALINHA CATUNDA

PELEJA
1 DC
Poeta Aldemá Morais
Gosto do seu versejar.
Cantando serra e sertão,
Canta que chega a dobrar.
Parece até um cupido
Encanta qualquer ouvido
Com seu jeito de cantar
2 AM
Só pode assim versejar
Quem andou dentro da brenha
Montado num burro lerdo
Tangendo uma vaca prenha
Cantando muito feliz
Vendo o céu escuro, diz.
Vai chover e não tem lenha!
3 DC
Se quiser pelejar venha,
Mas preste muita atenção:
Em folha seca pisando
Escapei de escorpião,
Sou chamada de abelha
Pois quando me der na telha
Sem pena meto o ferrão.
4 AM
Quero ver este ferrão
Enfrentar os seus rivais
Toda abelha do sertão
Eu conheço até demais!
Esta eu não conhecia
Quero ver na poesia
O que é que ela faz
5 DC
Não sei se lhe satisfaz
Ou se vai se arrepender.
Pois se não me conhecia,
Agora vai conhecer,
Eu sou abelha Dalinha
Da colméia a rainha,
Acho bom você saber.
6 AM
Já deu para perceber
Que você tá assustada
Me chamou para peleja
Mas não está preparada
Vejam que a amiga minha
Se intitulou de rainha
Mas está desafinada.
7 DC
Nunca fui desafinada,
Pode já se preparar
Minha língua é afiada
E sabe como açoitar.
Pode vir como quiser
Que da forma que vier,
Eu não deixo de encarar.
8 AM
Você vai ter que provar
Que é boa na cantoria
Quem mandou me provocar
Buliu com quem não devia
Mostre o que já aprendeu
Porque pra cantar mais eu
Precisa ter maestria
9 DC
Confesso que não queria
Partir pra provocação
Mas esse seu canto lerdo
Até me dá comichão
Castigue sua viola
Pra ver se a peleja rola
Com graça e animação.
10 AM
Quero ver o seu ferrão
Bote logo ele pra fora
Você diz que é valente
Não mostrou até agora
E se não sabe rimar
Não venha me provocar
Dê adeus e vá embora
11DC
Punhal cego não me tora
Seu golpe não é certeiro
Se já cantou algum dia
Foi em latada ou terreiro
Minha rima é perfeita
É rima que não se enjeita,
O que me falta é parceiro.
12 AM
Dalinha no meu terreiro
Só sabe cantar besteira
Se mete a desafiar
Um cantador de primeira
Não fosse a “Maria da Penha”
Eu ia meter­lhe a lenha
Mandar­lhe pra Ipueira
13 DC
Vou lhe deixar na poeira
Porque tenho gabarito
Bato até em bode velho
Imagine num Cabrito
Se você não melhorar
Pode já se preparar
Que eu vou meter o grito.
14 AM
Com esse seu jeito gasguito
Não pode cantar comigo
Primeiro tem que aprender
A escapar do perigo
Não sei o que vou fazer
Para evitar que você
Receba esse castigo.
15DC
Eu canto bem meu amigo
Já botei linha na arraia
E pra você deslanchar
Já rodei até a saia
Mas você não canta nada
Acho que fui enganada
Cantar não é sua praia.
16AM
Parece uma lacraia
Passando na minha frente
Eu fico atrapalhado
Meu verso sai diferente
Vou avisar a você
Se essa saia descer
Inspira­me no repente
17DC
Parece que anda carente
O poeta do sertão
Precisa dum aditivo
Para ter inspiração
É bem grande meu sofrer
Pro seu verso aparecer
E virar competição
18 AM
Eu me criei no sertão
Comendo queijo de coalho
Trago o verso na cachola
Canto e não me atrapalho
Não preciso de aditivo
Só isso já é motivo
Pra lhe ganhar no baralho
19 DC
Eu também não me embaralho
Pra seguir na cantoria
Vou montar em seu cangote
Galopar na poesia
Em você ninguém aposta
Quero ver sua resposta
Vê se não me contraria.
20 AM
Agora a cuíca pia
Você não vai aguentar
Você não me conhecia
Nunca me ouviu cantar
Comigo o rojão é quente
É bom que saia da frente
Se não tu vai se lascar
21 DC
Fiz jiripoca piar
Fiz galo virar capão
Já fiz macho falar fino
E também beijar meu chão
E quem tentou me lascar
Acabou por se ferrar
No gume do meu facão.
22 AM
Não encoste em meu tição
Que é pra não se queimar
Nunca vi pólvora com fogo
Conseguir se ajuntar
Vou lhe pegar com jeitinho
Eu lhe fazendo um carinho
Faço você amansar
23 DC
Quem tentou me dominar
Sentiu meu coice certeiro
Apagou logo o tição
Se borrou, foi pro banheiro
Na valentia deu fim
E quando passa por mim
Torce o pescoço ligeiro.
24AM
Sua rima não tem roteiro
Faz a maior misturada
Pois nessa nossa peleja
Provou que não canta nada
Vá pra escola estudar
Procure aprender rimar
Pra andar na minha estrada
25DC
Nos versos sou adestrada
Metrificação bem feita
A sua deixa eu sigo
Minha rima é perfeita
Sua ironia não cola
Volte você pra escola
Um treinamento lhe ajeita.
26AM
A platéia não aceita
Essa sua cantoria
Não entende a sua rima
Nem a sua melodia
Essa minha companheira
Vai voltar pra Ipueira
E assistir vaca dar cria
27 DC
Tudo isso me arrepia
Tá difícil prosseguir
Vejo a vaca ir pro brejo
Vou ver a vaca tossir
Vou bater num abestado
Que traz o canto estragado
E não quer se corrigir.
28AM
Tu agora vai sentir
Um cabra macho na cola
Ou peça pra desistir
Ou veja se desenrola
Não fiquem com pena dela
Hoje eu vou botá lhe a sela
E apertar a rabichola
29DC
Agora você se atola
Eu vou riscar o seu lombo
No pé já botei espora
Se prepare paro o tombo
Quando eu baixar o chicote
Pule e saia no pinote
Dessa vez eu lhe arrombo.
30 AM
Vou me escanchar no seu lombo
E botar pra derreter
Tu não sabes quem eu sou
Mas gora vai saber
Vou pega essa mulher
E desvendar seu mister
Para todo mundo ver
31 DC
Já deu para perceber
Que você só tem zoada
No meu lombo ninguém sobe
No seu já estou montada
Meu cartaz está subindo
Vejo o povo aplaudindo
E eu aqui dando risada.
32AM
A briga tá terminada
Tô com pena de Dalinha
Só porque a sua rima
Não se compara com a minha
Respeito a sua idade
Eu fazia barbaridade
Se ela fosse mocinha.
Fim
Dalinha Catunda cad. 25 da ABLC
dalinhaac@gmail.com

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