Cordel de Saia
O Blog Cordel de Saia idealizado e criado pela poeta de cordel, Dalinha Catunda, é direcionado à cultura popular, a mulher aparecerá como figura principal. Aqui receberemos democraticamente, homens e mulheres praticantes deste contagiante mundo encantado da Literatura de cordel. O blog tem também como função divulgar eventos relacionados a literatura de cordel além de descobrir e divulgar a mulher cordelista. Contatos: dalinhaac@gmail.com e rosariuspinto@gmail.com
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quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
Se tem mulher no cordel Você tem que respeitar. Glosas de Joames
quarta-feira, 15 de janeiro de 2025
SE FOI NOSSA TRADIÇÃO AO CHEGAR O CELULAR
Olá, amigos,
Obrigada
pela interação. Gostei muito das glosas de todos vocês. Foi ótimo a abordagem
do tema. Meu abraço a todos.
SE FOI NOSSA
TRADIÇÃO
AO CHEGAR O
CELULAR
Mote de
Dalinha Catunda
.*
Nos tempos
de antigamente
O povo se reunia.
Contava
histórias, sorria,
Porém, hoje
é diferente.
Nas calçadas
nossa gente,
Não senta
pra conversar,
Não brinca
de adivinhar,
Nos
alpendres do sertão:
SE FOI NOSSA
TRADIÇÃO
AO CHEGAR O
CELULAR.
Dalinha Catunda
*
É visível a
existência
Do antes
para o agora
logo no
romper da aurora
De rádio não
há frequência
Acabou a
audiência
Ví o seu
botão travar
E o nosso
dialogar
Virou essa
intervenção
SE FOI NOSSA
TRADIÇÃO
AO CHEGAR O
CELULAR.
Glosa:Gevanildo
Almeida
*
Mas cadê
meus envelopes ?
Já se foram
meus bilhetes !
Meus florais
em ramalhetes,
Sumiram como
galopes.
Inté mesmo
aqueles dropes,
De menta pra
refrescar,
É difícil de
encontrar,
Sem ter
bodega e balcão ;
SE FOI NOSSA
TRADIÇÃO,
AO CHEGAR O
CELULAR.
Wellington
Santiago
*
Toda noite
no terreiro:
Eu pulava,
eu corria;
Eu cantava,
eu sorria
Ou abria um
berreiro,
Era assim o
ano inteiro;
Na mangueira
se atrepar,
Pegar frutas
e chupar,
Se banhar no
cacimbão;
SE FOI NOSSA
TRADIÇÃO
AO CHEGAR O
CELULAR.
Arimatéa Sales.
*
Brincadeira
de criança
Era boneca
de pano.
Entrada de
cada ano
Mais crescia
a esperança.
O inverno
era a bonança
Na hora de
se plantar.
Às noites,
em nosso lar
De
histórias, contação.
SE FOI NOSSA
TRADIÇÃO
AO CHEGAR O
CELULAR.
Chica Emídio.
*
Recordo saudosamente,
Do período
de outrora,
Emoção me
invade agora,
Me deixando
tristemente,
Às coisas de
antigamente,
Me comove,
ao recordar,
Para se
comunicar,
Por carta,
era solução,
SE FOI NOSSA
TRADIÇÃO,
AO CHEGAR O
CELULAR.
Joabnascimento
*
Tenho cartas
e postais
Correspondências
antigas
De paqueras
e de amigas
E o tempo
não volta mais
Classificado
em jornais
De livros
para comprar
Anúncios pra
namorar
Era grande a
diversão
"SE FOI
NOSSA TRADIÇÃO
AO CHEGAR O
CELULAR"
Creusa Meira
*
Brincadeiras
de crianças,
As conversas
nas calçadas
Em rodas bem
animadas
Atiçam
muitas lembranças
Progresso
trouxe mudanças
A gente tem
que pagar
E na saudade
evocar
Os tempos
belos de então:
SE FOI NOSSA
TRADIÇÃO
AO CHEGAR O
CELULAR.
Bastinha Job
*
Com a
tecnologia
Distanciaram
a gente
As conversas
num batente
Ninguém ver
mais hoje em dia
Pois esse
bicho vicia
Mesmo
distante o lugar
Substitui
num piscar
Ninguém tá
ligando não
SE FOI NOSSA
TRADIÇÃO
AO CHEGAR O
CELULAR.
Dulce Esteves
*
Do rádio
vinha o repente,
A viola a
embalar,
Nas rodas
pra se dançar
Cantoria era
frequente.
Agora o povo
ausente,
De cabeça a
digitar,
Perde o
tempo de sonhar
E cultuar a
emoção.
SE FOI NOSSA
TRADIÇÃO
AO CHEGAR O
CELULAR.
Chico Fabio
*
Chegou a
tecnologia
Com força e
gosto de gás
Do baralho é
a carta ás
Para alguns
trouxe alegria
Pra outros a
nostalgia.
Muitos não
conseguem usar
Para se
comunicar
Através
desta invenção
SE FOI NOSSA
TRADIÇÃO
AO CHEGAR O
CELULAR.
Vânia Freitas
*
Fofoqueiro a
moda antiga
Já perdeu a
validade
Devido a
velocidade
Da fofoca e
da intriga
Não adianta
fazer figa
Nem cruz
credo murmurar
Pra notícia
não chegar
Ôh
tecnologia do cão!
SE FOI NOSSA
TRADIÇAO
AO CHEGAR O
CELULAR
Kleber
Torres
*
O conto da
carochinha
As histórias
de vovó
O saci com a
perna só
Pega pega
amarelinha
A ciranda
cirandinha
Vamos todos
cirandar
Sereiazinha
do mar
A mãe preta
e o pai João
SE FOI NOSSA
TRADIÇÃO
AO CHEGAR O
CELULAR
Araquém
Vasconcelos
*
Era no rádio
de pilha
Que música
boa se ouvia
Com a
notícia e a cantoria
Era nós
sintonizados
O povo era
informado
Com o rádio
sempre no ar
Para se
comunicar
Era a melhor
opção
SE FOI NOSSA
TRADIÇÃO
AO CHEGAR O
CELULAR
Maria de
Lourdes da Silva
*
Do rincão
que fui criada
Eu tenho
rica lembrança,
Domingo era
uma festança
Alegrando a criançada;
Passa-anel,
roda ou queimada
Fazia o
tempo passar,
Mas hoje se
analisar
Chega aperta
o coração:
SE FOI NOSSA
TRADICIONAL
AO CHEGAR O
CELULAR
Nilza Dias.
*
No tempo de
antigamente
A calçada
reunia
Toda noite,
todo dia
Os amigos e
parentes
Pra trocar
notícias quentes
Fazer verso,
conversar...
Mas agora,
fofocar
Virou uma
obsessão
SE FOI NOSSA
TRADIÇÃO
AO CHEGAR O
CELULAR
Giovanni
Arruda
*
Os bilhetes
perfumados
Dois nomes
em união
Escrito no
coração
Pra jamais
ser separados
Colegas
davam recados
Marcando pra
se encontrar
No banco do
patamar
Da igreja de
são João
SE FOI NOSSA
TRADIÇÃO
AO CHEGAR O
CELULAR
Jairo
Vasconcelos
*
Carrinhos
feitos de lata
Contar
estrelas no céu
A corrida do
tetéu
Meu cachorro
vira-lata
Preá
entrando na mata
Pra fera não
lhe pegar
E uma noite
de luar
Servia de
inspiração
"SE FOI
NOSSA TRADIÇÃO
AO CHEGAR O
CELULAR".
Jerismar
Batista
*
Cartas com
endereço certo
Pra não
voltar e dá problema
A resposta
era um dilema
Tanto pra
longe ou pra perto
Na mercearia
do Alberto
Tinha ficha
para comprar
Cartão pra
telefonar
Até fila no
orelhão
SE FOI NOSSA
TRADIÇÃO
AO CHEGAR O
CELULAR.
Fco. de Assis Sousa
*
Temos o
mundo nas mãos
Quando
usamos o celular
Dá para tudo
pesquisar
Mas também
tem traição
Os dados
roubam em vão
Casamentos a
se cessar
Os filhos a
se viciar
Há herói e
há vilão
SE FOI NOSSA
TRADIÇÃO
AO CHEGAR O
CELULAR.
João Roberto
Coelho
*
Nos tempos
de antigamente.
Era tanta
brincadeira.
Coisa de
criança arteira.
A vida era
mais contente.
Tudo ficou
diferente.
Não sabemos
brincar,
Nem há tempo
para amar.
Vivemos na
solidão.
SE FOI NOSSA
TRADIÇÃO,
AO CHEGAR O
CELULAR!
Rosário
Pinto
*
Já não temos
mais a vida
que se havia
antigamente.
Hoje a vida
é diferente,
até parece
invertida,
degredada,
descabida,
sem mais jeito
de acertar
muito menos
demudar,
isso é minha
opinião…
FOI-SE NOSSA
TRADIÇÃO
AO CHEGAR O
CELULAR.
David
Ferreira
*
Pirueta na
amplidão
Sonho de
qualquer menino
Mas por
força do destino
SE FOI NOSSA
TRADIÇÃO
A rodada do
pinhão
Faz esse
mundo girar
Mas se
queres navegar
Dentro desse
mundo cão
Entrega te à
solidão
AO CHEGAR O
CELULAR.
Ésio Rafael
*
Hoje vejo
muita gente
Na cultura
dar reboque
Vem um tal
de tik tok
Tem um x sem
ser oxente
YouTube bem
frequente
E tem mais
pra atrapalhar
Não dá nem
para citar
Internet é a
opção
FOI- SE
NOSSA TRADIÇÃO
AO CHEGAR O
CELULAR
*
“GLOSANDO NA
REDE” é uma ciranda de versos que tem como proponente, a poeta Dalinha Catunda.
dalinhaac@gmail.com
terça-feira, 31 de dezembro de 2024
E QUE A LUZ DO SALVADOR SEJA A NOSSA DIREÇÃO.
E QUE A LUZ
DO SALVADOR
SEJA A NOSSA
DIREÇÃO.
*
Saúde e
prosperidade
Eu desejo a cada
amigo
Que interagiu
comigo
Nesse ano
com lealdade
Manter a
nossa amizade
É preito de
gratidão
Desejo de
coração
Um ano com
muito amor
E QUE A LUZ
DO SALVADOR
SEJA A NOSSA
DIREÇÃO.
*
Mote e Glosa
de Dalinha Catunda
dalinhaac@gmail.com
terça-feira, 3 de dezembro de 2024
A MULHER E AS PERIPÉCIAS DA IDADE
A MULHER E
AS PERIPÉCIAS DA IDADE
1
Recebi duma
comadre
O nome não
vou dizer
Uma carta
reclamando
Da vida ao
envelhecer
Chorosa se
maldizia
Até falava
heresia
Porém fiz
questão de ler:
2
Saudações
minha comadre
Espero que
esteja bem
Pois aqui
vou como posso
Pouca coisa
me entretém
Não sei que
será de mim
Chegou a
velhice, enfim
Trazendo o
que não convém.
3
Se me
levantar depressa
Me levanto
com tonteira
Se não
correr pro banheiro
A xana vira torneira
Se eu
começar a tossir
Comadre, não
é pra rir!
Já começa a
peidadeira.
4
Arrumei uma
bengala
É nela que
me seguro
Até que é
jeitosinha
E me protege
no escuro
Só assim eu
passo a mão
Com certa
satisfação
Num cajado
de pau duro.
Minha vista
estava curta
Porém mandei
operar
O resultado
foi bom
Eu nem posso
reclamar
Eu que
enxergava ruim
Vejo até um
micuim
Bem antes
dele coçar.
6
Os gemidos
lá de casa
Não são
gemidos de amor
Qualquer
esforço que faço
Começo a
gemer de dor
Não há
tarefa sem ai
Quando um
palavrão não sai
Grito por
Nosso Senhor.
7
Agachar-me, faço
bem
O problema é
levantar
Não tenho
força nas pernas
Que possam
me impulsionar
Sofro,
porém, dou meu jeito
Nada no
mundo é perfeito
Eu tenho que
aguentar.
8
Quando me
vejo no espelho
Meu Deus,
que situação
Tem prega
pra todo lado
Deus não teve
compaixão
Botox não
vou botar
Também não
quero operar
Plástica não
faço não.
9
A bunda já
ficou murcha
Caída se
quer saber
A calcinha
virou calçola
Para a
desgraça esconder
Tudo
enquanto vai caindo
Da desgraça
vou sorrindo
Pra minorar
o sofrer.
10
Aqueles
seios bonitos
Que eu tinha
na juventude
Que
amamentaram meus filhos
Lhes
repassando saúde
Já não são
mais exibidos
Atualmente
estão caídos
Perderam a
plenitude.
11
A carne só
como mole
Vou chupando
se for dura
Meus dentes
se desgastaram
Venho usando
dentadura
Isso eu chamo
de maldade
Porque morro
de vontade
De mastigar
rapadura.
12
No boxe do
meu banheiro
Eu costumo
sempre usar
Um tapete de
borracha
Que é mais
firme pra pisar
Velha não
pode cair
Tenho que me
prevenir
Não deixo de
me cuidar
13
Aquele creme
cheiroso
Que sempre
gostei de usar
andei trocando
por outro
O fiz com
grande pesar
Vem escrito
na embalagem
É creme para
massagem
Próprio pra
lubrificar.
14
Para
melhorar as juntas
Uso sebo de
carneiro
Para aliviar
as cãibras
Passo arnica
bem ligeiro
E tenho
minhas reservas
Que é do gel
Sete Ervas
Esse, sim, é
milagreiro.
15
Eu não tenho uma suíte
Porém sou
remediada
Para não
passar aperto
E nem
aprontar cagada
Um penico já
comprei
E no meu
quarto instalei
Pra ficar
despreocupada.
16
Caminhar,
até caminho
Contudo já
estou manca
O meu boi da
cara preta
Virou boi da
cara branca
Para falar a
verdade
Eu já perdi a
vontade
De pegar
numa chibanca.
17
Marquei
ginecologista
Porém fiquei
acanhada
E no boi da
cara branca
Eu quis dar
uma arrumada
Sem querer
sair da linha
Só não me
lasquei todinha
Porque já
nasci lascada.
18
Dias antes
da consulta
Resolvi me
barbear
Quase que eu
me cortava
Mas achei
melhor parar
Pra não
ficar esquisito
Eu levei o
meu “priquito”
No salão pra
depilar.
19
Paguei todos
meus pecados
Nessa tal
depilação
Com cera
quente no bicho
A moça deu
um puxão
Gritei puta
que pariu
Sapecaram
meu chimbiu
Sentindo o
cheiro do cão.
20
Revoltada
fui pra casa
Andando de
perna aberta
Botei um
ventilador
E me deitei
descoberta
Pra
refrescar o pelado
Que
continuava inchado
Vibrando com
pisca alerta.
21
Uma coisa
lhe garanto
Minha
comadre querida
Nunca mais
vou depilar
Os pelos da
perseguida
Inda estou
me maldizendo
Pois ela
escapou fedendo
Mas me deixou
combalida.
22
Desculpe
minha comadre
Foi grande
meu alarido
Apesar de
tudo isso
Na vida vejo
sentido
Pra suportar
a jornada
Estou bem
acompanhada
Tenho filhos
e marido.
23
Da carta
espero resposta
Responda por
caridade
Me diga como
se sente.
Na tal da
melhor idade
Estou
brigando com ela
Entretanto a
vida é bela
Mesmo com
dificuldade.
24
Comadre
chego ao final
Dessa minha
narrativa
Resolvi desabafar
Nas linhas
dessa missiva
Receba meu forte
abraço
Para apertar
nosso laço
De maneira afirmativa.
*
Cordel de
Dalinha Catunda
*
Nota da
autora
A idade
chega, é inevitável! Não adianta chorar, lamentar, porque pior do que
envelhecer é partir, antes da hora, para o reino eterno.
Em conversa
com amigas, sempre vem à tona os contratempos da velhice. As queixas são muitas
e foi assim que nasceu em mim a vontade de escrever um cordel expondo essas
lamúrias, mas de modo especial.
Como gosto
de um gracejo, e acho que não devemos levar a vida tão a sério, meu relato é
feito em forma de carta, num tom jocoso, propositalmente, para arrancar
sorrisos e zombar da tão propagada melhor idade que inevitavelmente nos
acomete.
Acredite:
Nada como o bom humor para minorar as desventuras.
Dalinha
Catunda
Versos e fotos de Dalinha Catunda
Cordelista – Cirandeira – artesã e gestora dos blogs:
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dalinhaac@gmail.com