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quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Se tem mulher no cordel Você tem que respeitar. Glosas de Joames

AS MULHERES NO COR

Se tem Dalinha Catunda,
Bastinha Job, Josefina,
Marta Betânia, Marina
E Dulce Esteves profunda;
Rosário Pinto que inunda
De emoção nosso olhar,
Ivone Santos vem dar
Mais evidência ao plantel;
Se tem mulher no cordel
Você tem que respeitar.

Lindicássia Nascimento, Merecedora de aplauso, Faz cordel e conta 'causo', Eu, imitá-la nem tento; Jovelina tem talento, Rosa Regis, potiguar, Nascimento, p'ra citar Também temos Isabel; Se tem mulher no cordel Você tem que respeitar. Se temos Cordel de Saia, De calça ou de cinturão, Não vos faço distinção, Todos são da minha laia; Faço páreo nessa raia Sem com elas disputar; A todas vou divulgar Em palco, tela ou papel; Se tem mulher no cordel Você tem que respeitar. Mote de Dalinha Catunda. Glosas de Joames.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

SE FOI NOSSA TRADIÇÃO AO CHEGAR O CELULAR


 

Olá, amigos,

Obrigada pela interação. Gostei muito das glosas de todos vocês. Foi ótimo a abordagem do tema. Meu abraço a todos.

 

SE FOI NOSSA TRADIÇÃO

AO CHEGAR O CELULAR

Mote de Dalinha Catunda

.*

Nos tempos de antigamente

O povo se reunia.

Contava histórias, sorria,

Porém, hoje é diferente.

Nas calçadas nossa gente,

Não senta pra conversar,

Não brinca de adivinhar,

Nos alpendres do sertão:

SE FOI NOSSA TRADIÇÃO

AO CHEGAR O CELULAR.

 Dalinha Catunda

*

É visível a existência

Do antes para o agora

logo no romper da aurora

De rádio não há frequência

Acabou a audiência

Ví o seu botão travar

E o nosso dialogar

Virou essa intervenção

SE FOI NOSSA TRADIÇÃO

AO CHEGAR O CELULAR.

Glosa:Gevanildo Almeida

*

Mas cadê meus envelopes ?

Já se foram meus bilhetes !

Meus florais em ramalhetes,

Sumiram como galopes.

Inté mesmo aqueles dropes,

De menta pra refrescar,

É difícil de encontrar,

Sem ter bodega e balcão ;

SE FOI NOSSA TRADIÇÃO,

AO CHEGAR O CELULAR.

Wellington Santiago

*

Toda noite no terreiro:

Eu pulava, eu corria;

Eu cantava, eu sorria

Ou abria um berreiro,

Era assim o ano inteiro;

Na mangueira se atrepar,

Pegar frutas e chupar,

Se banhar no cacimbão;

SE FOI NOSSA TRADIÇÃO

AO CHEGAR O CELULAR.

 Arimatéa Sales.

*

Brincadeira de criança

Era boneca de pano.

Entrada de cada ano

Mais crescia a esperança.

O inverno era a bonança

Na hora de se plantar.

Às noites, em nosso lar

De histórias, contação.

SE FOI NOSSA TRADIÇÃO

AO CHEGAR O CELULAR.

 Chica Emídio.

*

Recordo saudosamente,

Do período de outrora,

Emoção me invade agora,

Me deixando tristemente,

Às coisas de antigamente,

Me comove, ao recordar,

Para se comunicar,

Por carta, era solução,

SE FOI NOSSA TRADIÇÃO,

AO CHEGAR O CELULAR.

 Joabnascimento

*

Tenho cartas e postais

Correspondências antigas

De paqueras e de amigas

E o tempo não volta mais

Classificado em jornais

De livros para comprar

Anúncios pra namorar

Era grande a diversão

"SE FOI NOSSA TRADIÇÃO

AO CHEGAR O CELULAR"

Creusa Meira

*

Brincadeiras de crianças,

As conversas nas calçadas

Em rodas bem animadas

Atiçam muitas lembranças

Progresso trouxe mudanças

A gente tem que pagar

E na saudade evocar

Os tempos belos de então:

SE FOI NOSSA TRADIÇÃO

AO CHEGAR O CELULAR.

Bastinha Job

*

Com a tecnologia

Distanciaram a gente

As conversas num batente

Ninguém ver mais hoje em dia

Pois esse bicho vicia

Mesmo distante o lugar

Substitui num piscar

Ninguém tá ligando não

SE FOI NOSSA TRADIÇÃO

AO CHEGAR O CELULAR.

 Dulce Esteves

*

Do rádio vinha o repente,

A viola a embalar,

Nas rodas pra se dançar

Cantoria era frequente.

Agora o povo ausente,

De cabeça a digitar,

Perde o tempo de sonhar

E cultuar a emoção.

SE FOI NOSSA TRADIÇÃO

AO CHEGAR O CELULAR.

 Chico Fabio

*

Chegou a tecnologia

Com força e gosto de gás

Do baralho é a carta ás

Para alguns trouxe alegria

Pra outros a nostalgia.

Muitos não conseguem usar

Para se comunicar

Através desta invenção

SE FOI NOSSA TRADIÇÃO

AO CHEGAR O CELULAR.

 Vânia Freitas

*

Fofoqueiro a moda antiga

Já perdeu a validade

Devido a velocidade

Da fofoca e da intriga

Não adianta fazer figa

Nem cruz credo murmurar

Pra notícia não chegar

Ôh tecnologia do cão!

SE FOI NOSSA TRADIÇAO

AO CHEGAR O CELULAR

Kleber Torres

*

O conto da carochinha

As histórias de vovó

O saci com a perna só

Pega pega amarelinha

A ciranda cirandinha

Vamos todos cirandar

Sereiazinha do mar

A mãe preta e o pai João

SE FOI NOSSA TRADIÇÃO

AO CHEGAR O CELULAR

Araquém Vasconcelos

*

Era no rádio de pilha

Que música boa se ouvia

Com a notícia e a cantoria

Era nós sintonizados

O povo era informado

Com o rádio sempre no ar

Para se comunicar

Era a melhor opção

SE FOI NOSSA TRADIÇÃO

AO CHEGAR O CELULAR

Maria de Lourdes da Silva

*

Do rincão que fui criada

Eu tenho rica lembrança,

Domingo era uma festança

Alegrando a criançada;

Passa-anel, roda ou queimada

Fazia o tempo passar,

Mas hoje se analisar

Chega aperta o coração:

SE FOI NOSSA TRADICIONAL

AO CHEGAR O CELULAR

Nilza Dias.

* 

No tempo de antigamente

A calçada reunia

Toda noite, todo dia

Os amigos e parentes

Pra trocar notícias quentes

Fazer verso, conversar...

Mas agora, fofocar

Virou uma obsessão

SE FOI NOSSA TRADIÇÃO

AO CHEGAR O CELULAR

Giovanni Arruda

* 

Os bilhetes perfumados

Dois nomes em união

Escrito no coração

Pra jamais ser separados

Colegas davam recados

Marcando pra se encontrar

No banco do patamar

Da igreja de são João

SE FOI NOSSA TRADIÇÃO

AO CHEGAR O CELULAR

Jairo Vasconcelos

*

Carrinhos feitos de lata

Contar estrelas no céu

A corrida do tetéu

Meu cachorro vira-lata

Preá entrando na mata

Pra fera não lhe pegar

E uma noite de luar

Servia de inspiração

"SE FOI NOSSA TRADIÇÃO

AO CHEGAR O CELULAR".

Jerismar Batista

*

Cartas com endereço certo

Pra não voltar e dá problema

A resposta era um dilema

Tanto pra longe ou pra perto

Na mercearia do Alberto

Tinha ficha para comprar

Cartão pra telefonar

Até fila no orelhão

SE FOI NOSSA TRADIÇÃO

AO CHEGAR O CELULAR.

 Fco. de Assis Sousa

*

Temos o mundo nas mãos

Quando usamos o celular

Dá para tudo pesquisar

Mas também tem traição

Os dados roubam em vão

Casamentos a se cessar

Os filhos a se viciar

Há herói e há vilão

SE FOI NOSSA TRADIÇÃO

AO CHEGAR O CELULAR.

João Roberto Coelho

*

Nos tempos de antigamente.

Era tanta brincadeira.

Coisa de criança arteira.

A vida era mais contente.

Tudo ficou diferente.

Não sabemos brincar,

Nem há tempo para amar.

Vivemos na solidão.

SE FOI NOSSA TRADIÇÃO,

AO CHEGAR O CELULAR!

Rosário Pinto

*

Já não temos mais a vida

que se havia antigamente.

Hoje a vida é diferente,

até parece invertida,

degredada, descabida,

sem mais jeito de acertar

muito menos demudar,

isso é minha opinião…

FOI-SE NOSSA TRADIÇÃO

AO CHEGAR O CELULAR.

David Ferreira

*

Pirueta na amplidão

Sonho de qualquer menino

Mas por força do destino

SE FOI NOSSA TRADIÇÃO

A rodada do pinhão

Faz esse mundo girar

Mas se queres navegar

Dentro desse mundo cão

Entrega te à solidão

AO CHEGAR O CELULAR.

Ésio Rafael

*

Hoje vejo muita gente

Na cultura dar reboque

Vem um tal de tik tok

Tem um x sem ser oxente

YouTube bem frequente

E tem mais pra atrapalhar

Não dá nem para citar

Internet é a opção

FOI- SE NOSSA TRADIÇÃO

AO CHEGAR O CELULAR

*

“GLOSANDO NA REDE” é uma ciranda de versos que tem como proponente, a poeta Dalinha Catunda.

dalinhaac@gmail.com

terça-feira, 31 de dezembro de 2024

E QUE A LUZ DO SALVADOR SEJA A NOSSA DIREÇÃO.

E QUE A LUZ DO SALVADOR

SEJA A NOSSA DIREÇÃO.

*

Saúde e prosperidade

Eu desejo a cada amigo

Que interagiu comigo

Nesse ano com lealdade

Manter a nossa amizade

É preito de gratidão

Desejo de coração

Um ano com muito amor

E QUE A LUZ DO SALVADOR

SEJA A NOSSA DIREÇÃO.

*

Mote e Glosa de Dalinha Catunda

dalinhaac@gmail.com

 

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

A MULHER E AS PERIPÉCIAS DA IDADE


A MULHER E AS PERIPÉCIAS DA IDADE

1

Recebi duma comadre

O nome não vou dizer

Uma carta reclamando

Da vida ao envelhecer

Chorosa se maldizia

Até falava heresia

Porém fiz questão de ler:

2

Saudações minha comadre

Espero que esteja bem

Pois aqui vou como posso

Pouca coisa me entretém

Não sei que será de mim

Chegou a velhice, enfim

Trazendo o que não convém.

3

Se me levantar depressa

Me levanto com tonteira

Se não correr pro banheiro

A xana vira torneira

Se eu começar a tossir

Comadre, não é pra rir!

Já começa a peidadeira.

4

Arrumei uma bengala

É nela que me seguro

Até que é jeitosinha

E me protege no escuro

Só assim eu passo a mão

Com certa satisfação

Num cajado de pau duro.

5

Minha vista estava curta

Porém mandei operar

O resultado foi bom

Eu nem posso reclamar

Eu que enxergava ruim

Vejo até um micuim

Bem antes dele coçar.

6

Os gemidos lá de casa

Não são gemidos de amor

Qualquer esforço que faço

Começo a gemer de dor

Não há tarefa sem ai

Quando um palavrão não sai

Grito por Nosso Senhor.

 

7

Agachar-me, faço bem

O problema é levantar

Não tenho força nas pernas

Que possam me impulsionar

Sofro, porém, dou meu jeito

Nada no mundo é perfeito

Eu tenho que aguentar.

8

Quando me vejo no espelho

Meu Deus, que situação

Tem prega pra todo lado

Deus não teve compaixão

Botox não vou botar

Também não quero operar

Plástica não faço não.

9

A bunda já ficou murcha

Caída se quer saber

A calcinha virou calçola

Para a desgraça esconder

Tudo enquanto vai caindo

Da desgraça vou sorrindo

Pra minorar o sofrer.

10

Aqueles seios bonitos

Que eu tinha na juventude

Que amamentaram meus filhos

Lhes repassando saúde

Já não são mais exibidos

Atualmente estão caídos

Perderam a plenitude.

11

A carne só como mole

Vou chupando se for dura

Meus dentes se desgastaram

Venho usando dentadura

Isso eu chamo de maldade

Porque morro de vontade

De mastigar rapadura.

12

No boxe do meu banheiro

Eu costumo sempre usar

Um tapete de borracha

Que é mais firme pra pisar

Velha não pode cair

Tenho que me prevenir

Não deixo de me cuidar

13

Aquele creme cheiroso

Que sempre gostei de usar

andei trocando por outro

O fiz com grande pesar

Vem escrito na embalagem

É creme para massagem

Próprio pra lubrificar.

14

Para melhorar as juntas

Uso sebo de carneiro

Para aliviar as cãibras

Passo arnica bem ligeiro

E tenho minhas reservas

Que é do gel Sete Ervas

Esse, sim, é milagreiro.

15

Eu   não tenho uma suíte

Porém sou remediada

Para não passar aperto

E nem aprontar cagada

Um penico já comprei

E no meu quarto instalei

Pra ficar despreocupada.

16

Caminhar, até caminho

Contudo já estou manca

O meu boi da cara preta

Virou boi da cara branca

Para falar a verdade

Eu já perdi a vontade

De pegar numa chibanca.

17

Marquei ginecologista

Porém fiquei acanhada

E no boi da cara branca

Eu quis dar uma arrumada

Sem querer sair da linha

Só não me lasquei todinha

Porque já nasci lascada.

18

Dias antes da consulta

Resolvi me barbear

Quase que eu me cortava

Mas achei melhor parar

Pra não ficar esquisito

Eu levei o meu “priquito”

No salão pra depilar.

19

Paguei todos meus pecados

Nessa tal depilação

Com cera quente no bicho

A moça deu um puxão

Gritei puta que pariu

Sapecaram meu chimbiu

Sentindo o cheiro do cão.

20

Revoltada fui pra casa

Andando de perna aberta

Botei um ventilador

E me deitei descoberta

Pra refrescar o pelado

Que continuava inchado

Vibrando com pisca alerta.

21

Uma coisa lhe garanto

Minha comadre querida

Nunca mais vou depilar

Os pelos da perseguida

Inda estou me maldizendo

Pois ela escapou fedendo

Mas me deixou combalida.

22

Desculpe minha comadre

Foi grande meu alarido

Apesar de tudo isso

Na vida vejo sentido

Pra suportar a jornada

Estou bem acompanhada

Tenho filhos e marido.

23

Da carta espero resposta

Responda por caridade

Me diga como se sente.

Na tal da melhor idade

Estou brigando com ela

Entretanto a vida é bela

Mesmo com dificuldade.

24

Comadre chego ao final

Dessa minha narrativa

Resolvi desabafar

Nas linhas dessa missiva

Receba meu forte abraço

Para apertar nosso laço

De maneira afirmativa.

*

Cordel de Dalinha Catunda

 

*

Nota da autora

A idade chega, é inevitável! Não adianta chorar, lamentar, porque pior do que envelhecer é partir, antes da hora, para o reino eterno.

Em conversa com amigas, sempre vem à tona os contratempos da velhice. As queixas são muitas e foi assim que nasceu em mim a vontade de escrever um cordel expondo essas lamúrias, mas de modo especial.

Como gosto de um gracejo, e acho que não devemos levar a vida tão a sério, meu relato é feito em forma de carta, num tom jocoso, propositalmente, para arrancar sorrisos e zombar da tão propagada melhor idade que inevitavelmente nos acomete.

Acredite: Nada como o bom humor para minorar as desventuras.

Dalinha Catunda


 Versos e fotos de Dalinha Catunda

Cordelista – Cirandeira – artesã e gestora dos blogs:

www.cantinhodadalinha.blogspot.com

www.cordeldesaia.blogspot.com

 

dalinhaac@gmail.com