Que me invade e assola
Sem saber pr’onde seguir
Porque nada me consola
Só pensamento canhesto
Nesta hora me arrola
CUSPIR A DOR
1
Peço perdão aos deuses
Por esta minha evocação
Tenho uma dor tão aguda
Dentro deste coração
Que ás vezes até penso
Não resistir à pressão
2
Com os olhos encharcados
O corpo feito em chaga
As pupilas dilatadas
E a alma espedaçada
Os rumos estão perdidos
E minha vida parada
3
Os amigos estimulam
Vencer esta depressão
Mas quem vive em agonia
Não enxerga a solução
É uma dor dilacerante
Que atormenta o coração
4
Sei que ainda vou sorrir
E conseguir ir adiante
Hoje, tudo está escuro
Mas é preciso ir avante
Chorar dia, noite e dia
Num soluçar constante
5
Sinto a vida decair
Equilibrar-se por um fio
Tão tènue, inverossimel
No olhar, só desafio
O cansaço me abate
Mas a vida, eu desafio
6
Andando de léu em léu
A vida eu vou levando
A tristeza invade a alma
E vou me conformando
Perdi toda a esperança
Nesta vida estou vagando
7
Desse frágil equilíbrio
Quisera sorrir, cantar
Mas o medo me apavora
Louca, não vou ficar
Se Deus não me esqueceu,
Ainda hei de me levantar
8
Há noites de grande insônia
Há um vazio tão profundo,
Que nada restabelece
A minha crença no mundo
Um sofrer silencioso
Carrega-me para o fundo
9
Fundo d’uma grande dor
Há muito tempo guardada
Sem gritar, alardear
Estou no chão colada
Desejo me soerguer
Não me sinto encorajada
10
O medo me espreitava
Lutei muito com a sorte
Ela só me açoitava
Sem oferecer suporte
Cheguei até a pensar
Que a saída seria a morte
11
Andei por plagas arenosas
Com luta em demasia
Almejando, certamente
Dias de mais calmaria
Aturdida, sem saber,
Se eu a conquistaria
12
Estou c’alma abalada
Misturando sentimentos
Mas, sofrer: é mesmo assim:
Pois se traduz em tormentos
Este poema “non sense”
Reflete meus sentimentos.
(Rosário Pinto)
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