SÃO JOÃO
NA ROÇA
1
Hoje
acordei com saudades
Das festas
do meu sertão
De matuta
me trajava
E cheia de
animação
Com meu
vestido de chita
Chapéu e
laço de fita
Feliz
dançava o São João.
2
Enxerida e
dançadeira
Nunca me
faltava par
Pra dançar
numa quadrilha
Nas festas
do meu lugar
Tudo hoje
é diferente
Até o São
João da gente
Acharam
por bem mudar.
3
No São
João de Antigamente
Tudo era
especial
O noivo e
a noiva vinham
No lombo
dum animal
Ou então
numa carroça
Assim era
lá na roça
No São
João tradicional!
4
No
casamento matuto
Era um
Deus nos acuda
Noivo
querendo fugir
Da noiva
já barriguda
De
espingarda na mão
Fazia o
pai confusão
E ao juiz
pedia ajuda.
5
O vigário
embriagado
Cambaleava
no altar
O pai que
não sossegava
Gritava
vou já matar
Ou casa ou
eu não dou trégua
Nesse
filho d’uma égua
Eu atiro é
sem mirar.
6
O delegado
chegava
E acabava
a confusão
O noivo
então se casava
Pra não
mofar na prisão
Com
barulho de foguete
Principiava
o banquete
Assim era
a tradição.
7
Quem
comandava a quadrilha
Lá no meu
interior
Era só
gente da gente
E eu dava
o maior valor
No momento
de ensaiar
Do nosso
bom linguajar
Valia-se o
gritador.
8
Foi a
caminho da roça
Transbordando
de alegria
Que passei
com meu amor
Num túnel
de fantasia
Mas na
primeira manobra
Quando eu
ouvi, Olha a cobra!
Eu gritei:
Ave Maria!
9
Olha a
cobra, olha a chuva
Tudo era
encenação
A cobra
não assustava
Chuva não
caía não
No giro
que a roda dava
Eu fui
dama coroada
Em cada
apresentação.
10
No
cumprimento das damas
Rapaz
tirava o chapéu
A dama se
derretia
Sentindo-se
lá no céu
Quando a
dança terminava
A folia
começava
Era grande
o escarcéu.
11
A
mulherada corria
Para fazer
simpatia
Um
corre-corre danado
Para ver
se descobria
Com quem
ia se casar
Tentava
enxergar o par
Na água
duma bacia.
12
Já outros passavam
fogo
Naquele
dado momento
Era em
nome dos três santos
Que faziam
juramento
Você vai
ser meu compadre
E você
minha comadre
Era assim,
eu não invento.
13
E nesse
costume antigo
Arrumava-se
afilhado
Era assim
que sucedia
Depois do
fogo passado
Quem jurava
na fogueira
Levava pra
vida inteira
O que fora
confirmado.
14
Eu jamais
vou esquecer
Do São
João no Ceará
O bolo
feito de milho
Um pote
com aluá
Pamonha
também canjica
Aqui a
lembrança fica
Remetendo-me
pra lá.
15
Nos
braseiros das fogueiras
Se agitava
a meninada
Se danando
a assar milho
E a fazer batata
assada
A fogueira
faiscava
Milho
cozido cheirava
Era uma festa
animada.
16
As musicas
que se ouvia
No bom São
João Nordestino
Era só
Luiz Gonzaga
Com seu
canto genuíno
Repleno de
animação
Incendiava
o sertão
Sem
cometer desatino.
17
Era uma
festa bonita
Que tinha sua
candura
Feita com
nossos costumes
Com base
em nossa cultura
Tudo agora
está mudado
Até o
sapato é dourado
Viramos
caricatura.
18
Tanto
luxo, tanto brilho,
Largaram
chita e chitão
Não tem mais
nada de roça
Pois é só
ostentação
Parece a
festa da uva
Até
princesa com luva
Vejo na
apresentação.
19
Parece
escola de samba
Na hora de
desfilar
E tem
comissão de frente
Antes do
grupo dançar
É um tal
de se exibir
Dançam
para competir
E não para
festejar.
20
Até a
música usada
Não é como
antigamente
Falta
sanfona e zabumba
E um
triângulo estridente
Falta um
forró animado
Com cara
de nossa gente.
21
Cadê o
chapéu de palha
E o bigode
desenhado
A camisa
de xadrez
Ou de
tecido estampado
Cadê o
nosso matuto
Que
dançava absoluto
No sertão
o seu reinado.
22
Cadê a
moça bonita
Que guardo
em minha lembrança
Com pintas
pretas na face
De cada
lado uma trança
Cadê a
festa junina
Tão nossa
tão nordestina
Dos bons
tempos de bonança.
23
Eu ainda
quero ouvir
Na voz de
um cantador
O que eu
ouvi num São João
Numa noite
de esplendor
A mais
linda melodia
Onde
Gonzagão dizia:
Olha pro
céu meu amor...
24
Não vamos
interromper
Os passos
de nossa história
Devemos
vivenciar
Não só
guardar na memória
Defender e
resguardar
Sem deixar
de praticar
Feitos
dessa trajetória.
Fim
Cordel de
Dalinha Catunda cad. 25 da ABLC
dalinhaac@gmail.com