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Sou poeta cordelista
Nascida lá no sertão.
Ipueiras minha terra,
Ceará é meu rincão.
Adoro ser nordestina.
Levo comigo uma sina,
Amar meu agreste chão.
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Minha mãe fazia versos,
Gostava de declamar.
Foi professora primária,
Com ela aprendi rimar.
Ter gosto pela cultura,
Gostar da literatura,
E o velho cordel amar.
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Assim eu me fiz mulher
Abraçando a poesia.
Meu mundo era encantado
Era cheio de magia.
Talvez um pouco irreal.
Mas para mim ideal,
Porque era o que eu queria.
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A mulher abriu caminhos,
Difíceis de percorrer.
Enfiou os pés na estrada.
Pra demonstrar seu saber.
Foi bem grande a sua luta
Porém ficar sempre oculta
Impossível conceber.
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Pois durante muito tempo
Fomos só inspiração.
A musa que os poetas,
Traziam no coração.
Sonhávamos ter um dia
A popular poesia
Com farta publicação
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Não estou insinuando
Que a mulher não atuava.
Ela já fazia versos
Apenas não publicava.
Mostrava sua alegria
Nas rodas de cantoria
E os aplausos conquistava.
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Embora houvesse machismo,
A mulher se aventurou,
Mesmo sendo analfabeta,
Entrou na roda e cantou
Sem ligar pro: ora veja!
E de peleja em peleja
O homem desafiou.
Foi no livro “Cantadores”
Pra minha satisfação
Que conheci cantadoras.
Uma chamou-me atenção
Por ser bem mais animada,
E cheia de presepada,
Zefinha do Chabocão!
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E pelo Nordeste afora,
Em roda de cantoria,
Rita Medeiros cantava,
Chica Barrosa se via.
Maria Tebana também
Cantava e cantava bem
Mulher que se garantia.
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Quando a mulher decidiu,
Por imprimir seu cordel.
Foi um nome masculino,
Que ela botou no papel.
Essas pobres criaturas,
Sofriam com as torturas,
Do patriarcado cruel.
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Mas tudo modificou,
Hoje a coisa é diferente.
O cordel está em festa
E a mulherada presente.
Homem agora é parceiro
Até virou companheiro,
No cordel e no repente.
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Atualmente as cordelistas,
Assumem o seu lugar.
Na Bahia, Pernambuco,
Isso eu posso assegurar.
O Nordeste brasileiro,
Há muito virou celeiro,
De mulheres a versar.
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No Ceará, Paraíba,
A mulher faz poesia.
Temos lá em Juazeiro,
Uma Salete Maria.
Que audaz em sua meta,
Tem a postura correta,
Desbancando a hipocrisia.
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Na Paraíba nós temos,
A Nelcimá de Morais.
Boa mestra e cordelista.
Engajada até demais.
Ela pesquisa em cordel,
A mulher e seu papel,
Em tempos medievais.
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Temos Josenir Lacerda,
E Bastinha Job é fato,
As duas são pioneiras
Da academia do Crato.
Carregam com devoção
O cordel no coração,
Dão a cultura um bom trato.
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E tem Maísa Miranda,
Na safra lá da Bahia.
Temos a Ilza Bezerra
Recebendo honraria.
O cordel está crescendo
A mulher aparecendo,
Como o momento pedia.
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Muitas mulheres atuam
Neste mundo do cordel.
Ativas também anônimas
Respeito cada papel.
Mas pra falar a verdade,
Rasgar o véu da maldade
Só ampliando o painel.
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Pesquisadores procuram,
A nossa arte revelar
O cordel de boca em boca.
Já chega a todo lugar.
Agora com internet
Esta obra do Nordeste.
Ficará mais popular.
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Eu sempre fui inquieta
E cheia de novidade.
Enxerida como que!
Para falar a verdade.
Amigada com cordel,
Faço dele meu corcel,
Pra minha felicidade.
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Eu sou Dalinha Catunda,
Não foi minha intenção,
Sobre o cordel feminino,
Fazer vasta explanação.
Só um modesto recado:
É que se abra o mercado
Para nossa produção.
*
Cordel e foto de Dalinha Catunda
Neste cordel de saia
ResponderExcluirEu Já me sinto dentro
Dalinha, da nossa raia,
É tempero bom é "coentro"
"Canteiro" que canta na praia,
Mas o sertão é seu epicentro
É, de Ipueiras que se espraia
O "pomar" de rimamento!
Parabéns.amiga!
Dalinha, a iniciativa é cultural, social e altamente relevante para o mundo do cordel. Parabéns as Saias do Cordel!
ResponderExcluirBeijos, com carinho.
Minha amiga Dalinha
ResponderExcluirvenho aqui lhe visitar
e pelo jeito eu acho
que por aqui vou é ficar.
Parabéns pelo novo espaço, pelos escritos fabulosos e pela defesa da cultura nordestina e do bom cordel.bjs
SAÚDO A MULHER DE FIBRA
ResponderExcluirQUE NUNCA FOGE DA RAIA
SAÚDO A TERNURA DA FÊMEA
QUE, TOMARA, NUNCA CAIA
SAÚDO A HUMILDE SERTANEJA
QUE BRILHA NO SOL DA PRAIA
SAÚDO AS QUE CRIARAM
O BLOG "CORDEL DE SAIA"
Júnior Bonfim
Querido amigo Valter,
ResponderExcluirVocê é de grande valia.
E ficando por aqui,
Vai nos trazer alegria.
Um abraço,
Dalinha
Li os versos de Dalinha
ResponderExcluirE gostei de analisar
Vi que ela fez pesquisa
Que lhe permitiu falar
De Zezinha do Chabocão
Que de viola não mão
Foi repentista exemplar.