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terça-feira, 15 de junho de 2010

Sala de visitas recebe – Nelcimá de Morais





Mª Nelcimá de Morais Santos




Nelcimá de Morais poeta de cordel e professora, natural de Santa Luzia (PB). Foi no curso de pós-graudação da UFPB, que deu asas às pesquisas e composições de poesia popular. É poeta de cordel e, das boas... Como venho repetindo aqui no Cordel de Saia sobre algumas dessas mulheres maravilhosas: “são poetas de musa cheia”.
Nelcimá percorre várias temáticas, como: história tradicional, modo de vida, meio ambiente, educação, etc. Consulte no link http://ncordel.blogspot.com . Resalta em seus trabalhos a mulher como tema poético e como agente na literatura de cordel.
Hoje, aposentada, Nelcimá dedica mais tempo para a composição de folhetos e também para a sua divulgação, mediante Oficinas em escolas. Verifique a útima estrofe do poema Brincando de produzir cordel, decorrente do Projeto Oficina de Cordel nas Escolas, 2009.
(…)
Eu fiquei muito feliz
Com o resultado obtido
Aquilo que almejei
Do projeto foi mantido
A Deus quero agradecer
O sucesso obtido.
 
O MARTÍRIO DE UMA VIRGEM
Vou falar de uma virgem
Que muita história deixou
História de vida e fé
De sofrimento e de dor
Conto orgulhosa e atenta
Tudo o que a moça passou.

Luzia foi uma jovem
Que através da humildade
Foi proclamar ao Deus vivo
Vivendo em castidade
Com amor pelos humildes
Praticando a caridade.

Essa moça, virgem, mártir
No mundo é venerada
Nasceu no século III
E desde lá cultuada
Na cidade Siracusa
Uma cidade paganada.

O mundo inteiro conhece
A história de Luzia
Viveu no sul da Itália
E todo mundo sabia
Do seu exemplo de fé
Do bem que a todos fazia.

De família nobre e rica
Que grande herança deixou
Foi órfã aos quatro anos
Muita educada ficou
Naquela comunidade
Paganismo dominou.

No meio do paganismo
A menina recebia
Educação primorosa
Daquele que transmitia
Belas lições de amor
E Luzia obedecia.

Vivendo com a sua gente
Luzia então percebeu
A distância separando
Seus irmãos e resolveu
Entregar a Deus o corpo
E o espírito puro seu.

Preferindo a castidade
Uma refletida opção,
Tão lúcida e espontânea,
Pra dedicar-se a oração,
Servir aos necessitados,
Vivendo à contemplação.

Jovem muito desejada
Que despertou a nobreza
Pelos bens materiais
Tão grande a sua riqueza
Seria uma noiva ideal
Mas preferiu a pobreza.

Concretizando sua fé
A virgem Luzia pediu
Uma cura pra sua mãe
E grande luz ela viu
No túmulo de Santa Águida
O milagre ali surgiu.

Depois do grande milagre
A sua mãe que queria
Seu casamento pagão
Agora não exigia
Respeitava convicção
Da jovem filha Luzia.

Seu dote bem desejado
A mãe Luzia pediu
Que a ela fosse dado
Porque Luzia preferiu
Distribuir com os pobres
E Luzia conseguiu.

A notícia se espalhou
E a virgem bem sabia
Perseguição e vingança,
Martírios a perseguia
O jovem, seu pretendente,
Esperança ainda nutria.

O jovem inconformado
Em ódio se transformou
Sua vontade de casar
Porque a paixão levou
Ao desejo de vingança
E a virgem denunciou.

Por vários crimes, Luzia
Ao poder denunciada
Não aceitou se casar
Por ser cristã confiada
Adorava um Deus estranho
E ensinamento pregava.

Pregavam os ensinamentos
De Jesus, o Salvador,
Contra aqueles poderosos
E dos humildes a favor
Em detrimento dos deuses
Nacionais, que horror!

Aí começou, então,
Caminho do sofrimento,
Do martírio e da sentença,
Também do seu julgamento
Luzia só testemunhava
E não se ouvia lamento.

Com a sua convicção
De jovem denunciada,
Porém segura de si
Ao tribunal foi levada
Sobre sua confirmação
A virgem foi perguntada.

O juiz que era pagão
Por sangue estava sedento
Julgar com severidade
O homem estava querendo
Pro imperador agradar
Aproveitando o momento.

No meio do interrogatório
Esse juiz ordenou
Sua adoração aos deuses
Nacionais, com amor
E o casamento aceitasse
Luzia não se intimidou.

Resposta firme e altiva
Ela dirigiu aos seus
Dizendo que não faria
―Adoro a um só Deus,
Prometi fidelidade,
Vou cumprir os votos meus.

O juiz ensandecido
Luzia ameaçava
Dando seqüência ao processo
Ele a virgem intimidava
Com o seu imenso ódio
Que irado a torturava.

Ameaçada de estupro
Mas firme na decisão
Queria sempre ser casta
Pra sua santificação
Templo do espírito Santo
Era assim seu coração.

Luzia disse ao juiz:
―Meu Deus não vai me julgar
Se à força oferecer
Incensos para adorar
Aos ídolos, sem vontade
Para os homens agradar.

Foi dando provas de fé
Que a virgem confiou
Numa proteção divina
Ao juiz desafiou
Uma mensagem de Paulo
Pr’aquele homem citou.

O “Tudo posso Naquele
Naquele que fortalece”
Dito pela virgem Luzia
Pr’aquele homem parece
Causou ainda mais ira
O homem quase enlouquece.

O seu nobre pretendente
Que a tudo assistia
Fez uma outra tentativa
Para convencer Luzia
Dava outra oportunidade
Casar com ela queria.

Fez-lhe muitos elogios
Falou da convicção,
Enalteceu sua beleza,
E de anjo a sua feição,
Do seu olhar a pureza,
De fiel o coração.

A legenda popular
Narra a sua decisão
De arrancar os seus olhos
Pra oferecer ao então,
Jovem fidalgo e ao mundo
Causando admiração.

Contam ainda de outros olhos
Que em Luzia surgiram
Mais perfeitos e radiantes
No seu rosto todos viram
Que era Santa, acreditaram
E isso não omitiram.

A virgem foi resistindo
A investida jogada
Com sua superioridade
Que por Jesus foi lhe dada
Mas piche, azeite e resina
No seu corpo foi jogada.

Fizeram grande fogueira
Do seu corpo padecido
Subiram as labaredas
Mas Luzia, tenho lido,
Saiu ilesa da fúria
Daquele povo perdido.

Demonstrativo de fé
Dessa jovem sofredora
Que quando de olhos fechados
Era uma boa oradora
Chamava sempre por Deus
Da Palavra uma cumpridora.

O juiz com grande raiva
Ao seu soldado ordenou
A morte da virgem Santa
Que na história ficou
Atravessando uma espada
No seu pescoço, a matou.

Era 13 de dezembro
Do ano 303
Luzia deixava o mundo
E muita falta ela fez
Deixou como ensinamento
Exemplo de fé, altivez.

Na cidade Siracusa
Seu corpo foi sepultado
E para Constantinopla
Bem depois foi transportado
À Imperatriz Teodora
Esse corpo foi doado.

A virgem de quem eu falo
É a nossa Santa Luzia
Que belo exemplo de fé
Nessa donzela se via
Fazer homenagem a ela
Há muito tempo eu queria.
 
(Nelcimá de Morais)



3 comentários:

  1. Amigos,
    Sala de visita é um espaço no blog cordel de saia onde receberemos, com muito carinho de 15 em 15 dias, cordelistas de todo Brasil.
    É também um jeitinho de interagir com colegas distantes o que enriquece a troca de cultura de ambas as partes.
    E mais do que isso!! é uma maneira de divulgar nossa cultura popular, dentre elas o cordel.
    Um abraço a todos,
    Dalinha

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  2. É uma honra ter um histórico meu postado num blog deste nivel - uma vitrine para aqueles que vivem em lugares que não enfatizam muito o nosso trabalho. Interagir com vocês é uma forma de manter vivo um sonho que aos poucos vou realizando: expandir o cordel, e em especial, de autoria feminina.
    Um abraço carinhoso!
    Nelcimá

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  3. Nelcimá, muito obrigada.
    Esta honra é pra nós.
    Convide outras mulheres,
    Não vamos ficar tão sós.
    Cordel de Saia chegou:
    Para marcar nossa voz

    Querida o prazer é todo nosso. Queremos trazer as mulheres poetas do Crato para interagir conosco.
    Muitos beijinhos,
    Rosário

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