O professora e poeta de Cordel, Maria Nelcimá Morais Santos apresenta para o mundo da pesquisa a história de Judith Jovithe das Neves. Faleceu no ano de 48 e deixou um cordel impresso numa tipografia da região, de sua autoria e sem usar pseudônimo. Natural de Sta Luzia PB. Cordel com 86 estrofes.
A primeira cordelista do Brasil
1
Judith Jovithe das neves
Em Santa Luzia nasceu
Era ainda uma mocinha
Quando um poema escreveu
Com um assunto extenso
E ela no seu bom senso
A tragédia descreveu.
2
Foi o ano 21
O ano do seu nascimento
Era uma moça vistosa
Com muito atrevimento
Atreveu-se no contar
E com garra foi passar
Pro nosso conhecimento.
3
“Leitor, ouvi fervoroso
Esta minha narração
Quero contar uma história
Que faz cortar o coração
De um crime que o bandido
Fez aqui no meu sertão”.
4
A história que essa moça
Resolveu nos descrever
Tem um teor jornalístico
Você pode perceber
Como pode uma jovenzinha
Caprichar no descrever?
5
“Foi no Riacho da Serra
Este quadro doloroso
Nunca aqui aconteceu
Um crime tão horroroso
Parece que este homem era
Um bárbaro vil criminoso”.
6
Vejam que a jovem Judith
Usa uma expressão avançada
“o bárbaro vil criminoso”
É pra uma pessoa estudada
Ela discorre o seu texto
Como pessoa informada.
*
7Quero mostrar para todos
O tamanho da sua grandeza
Como uma boa jornalista
E usando a sua franqueza
Em 84 estrofes
Descreve com muita leveza.
8
O seu cordel narra um caso
Dum casal de namorado
A família de Maria
Do rapaz não tinha gostado
E terminar o namoro
Foi por ela planejado.
9
Um dia disse ela a Lino
Eu estou desvanecida
Prometi casar-me contigo
Mas já estou arrependida
Pois não quero dar desgosto
A minha mamãe querida”.
10
“O rapaz ouvindo isto
Saiu pisando em brasa
Dizendo: aquela malvada
Com outro também não casa
Ou ela casa comigo
Ou então com minha mauza”.
11
A testemunha do crime
Era irmão da falecida
Uma criança indefesa
Que nada sabia da vida
O desfecho bem descrito
Foi por sua mente acolhida.
12
“ Quando ela ouviu disse:
Lino pelo amor de Deus
Não me fira, não me mate
Não termine os dias meus
Visto que nunca ofendi
Nem a você, nem aos meus.
13
“ Pode valer-se de tudo
De juiz e general
De Maria Imaculada
De Jesus no tribunal
Que não há santo que livre
Você do golpe mortal”.
14
Na estrofe 49
Ela começa a falar
Dos homens policiais
Que foram chegando lá
Da tristeza que envolveu
Todo aquele lugar.
15
Descreve como repórter
E grande especialista
Usa uma desenvoltura
De uma grande jornalista
Ela mostra expressões
Duma grande comentarista.
16
O tenente foi pra rua
Levando tudo em memória
Pra toda parte da história
Ele botou precatória
Não queria que o bandido
Ficasse contando a história.
*
A morte da inditosa Maria barbaramente assassinada por
Lino Goiaba
17
Este é o único título
Que a cordelista deixou
Com 504 versos
Um rico poema formou
E a redondilha maior
Com leveza ela usou.
18
Nas estrofes de setilhas
Que ela resolveu usar
Vemos a forte cadência
Da poesia popular
Usando com maestria
O erudito e o popular.
19
Judith Jovithe Neves
Muito jovem faleceu
Casou em 46
E em 48 morreu
Deixou pra vida um filhinho
Que sem sua mamãe cresceu.
20
No final dos anos 30
Segundo uma informação
Ela escreveu o cordel
E nem tinha a noção
Que seria a primeira
Mulher em publicação.
21
Na estrofe 86
O seu nome vem falar
Naquele tempo se sabe
Mulher não podia publicar
Cordel era coisa de homem
Mas mesmo assim vem provar.
22
“Judith Jovithe das Neves
Que compoz esta história
Está mostrando um exemplo
Guardaremos na memória
Principalmente as mães
De muitas mocinhas dagora”.
Nelcimá Morais
Novembro de 2022
Postagem de Dalinha Catunda
dalinhaac@gmail.com
Obrigada, Dalinha Catunda, pela postagem! 😘
ResponderExcluir