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quarta-feira, 22 de maio de 2013

EU, poema de Florbela Espanca


Caros amigos poetas,
Hoje fujo aos cânones das poetagens de poesia de cordel para deixar aqui um  soneto da bela Florbela Espapa. Vai mais com o meu atual estado d'alma. Espero que possam apreciar. Afinal foi uma das mais batalhadoras pelos direitos da mulher publicar suas poesias, numa época em que a poesia feminina ainda era marginalizada.
Deixo aqui um comentário extraído de estudo crítico de João Régio para a  edição Sonetos, de Florbela Espanca: 
"Fantasia (ou não sei se fantasia) um de seus biógrafos (Carlos Sombrio), que tendo acabado de dar à luz, a mãe de Florbela pergunta:
- menino?
- Não, menina! É uma flor!""
Sim, antes de mais, Florbela nasceu mulher. Também alguma coisa se irá dizendo a tal respeito. Não é impunemente que um ser especial nasce mulher"

EU

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...

Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chama triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!

Se desejar, pode fazer seus comentários.

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