Rosário Pinto e Dalinha na abertura da exposição Júlia Lopes de Almeida (poeta e romancista do final do século XIX e início do XX, que viveu exclusivamente de literatura) na Sala de Leitura da Escola que carrega seu nome.
*
Os tempos passam, mas os valores precisam ser
reafirmados a cada dia. Para a mulher o lema é o de reafirmar-se a cada
momento. Mesmo nos dias atuais a mulher ainda sofre preconceitos e
discriminação pelo simples fato de ser MULHER. O seu saber é, muitas vezes, visto como
especial, e não natural.
*
*A primeira
mulher que publicou, em 1938, o fez sob o pseudônimo masculino de Altino
Alagoano, foi assim que Maria José das Neves Batista Pimentel assinou seu
folheto. Somente a partir de 1970 é que
se pode verificar a autoria feminina em publicação de folhetos de cordel. A
figura da mulher sempre apareceu com características de – virtude, honestidade,
beleza e, sob a ótica masculina e, com cunho moralizante. A mulher, na
sociedade patriarcal, era reclusa, aos cuidados do lar e a educação dos filhos,
à satisfação social do marido. Sua educação não ia além da possibilidade de
contar histórias e contos de encantamento para os filhos, das cantigas de ninar;
ler e escrever livros de receitas, quando muito. Valia o jargão: “se uma mulher aprende a ler, será capaz
de receber cartas de amor”. A estrutura de reclusão era imposta de
forma muito velada e justificada como “zelo
familiar”. Havia os gêneros de leitura mais adequados para as mulheres,
face à moral e aos bons costumes. Ainda assim, algumas mulheres, neste jogo de
poder burlavam a vigilância patriarcal ou dos maridos e apoderavam das formas
poéticas executadas pelos homens Veja a quadrinha popular do início do século
XX, abaixo:
*
“Menina que sabe muito
É menina
atrapalhada,
Para ser
mãe de família,
Saiba
pouco, ou saiba nada.”
***
A mulher, no início do século XX,
quando os folhetos de cordel proliferaram no Nordeste, na ausência de jornais,
rádios e televisão, era descrita como: princesa – obediente e calada diante dos
valores paternos, da sociedade e da religião; mãe devotada, esposa exemplar -
àquela que protege o lar e filhos dos perigos, defensora da moralidade. O contrário disso era
descrito como perigos para a manutenção da estrutura familiar. A mulher que se
atrevesse a elaborar versos de cordel era vista como em luta contra o diabo, a
serpente e, isto como castigo por suas ações. A prostituição é tema de contraponto relevante entre poetas para
exemplificar e exaltar a virtude e, castigar as atitudes “inadequadas para uma
mulher”, dessa forma fazia-se valer os valores da moralidade vigente.
*
*Leia aqui o folheto de Maria das Neves Batista
Pimentel, filha do poeta e editor Francisco das Chagas Batista, O
viulino do diabo ou o valor da honestidade, publicado em 1938, sob o pseudônimo de Altino
Alagoano. Isto porque ninguém compraria um folheto escrito por mulher. Nestes
primeiros momentos de composições femininas, elas ainda reproduziam os valores
temáticos masculinos. Somente recentemente esses valores foram deixados de lado
e as mulheres buscam firmar suas próprias visões do mundo e da sociedade.
*
*
Vale esclarecer, nos últimos anos, a presença
assídua das mulheres na publicação de folhetos. Podemos afirmar que, hoje, a
mulher trouxe para a literatura seu olhar intuitivo e suas preocupações com as temáticas e os
problemas sociais que ainda enfrenta, perante uma sociedade que engatinha na legislatura em favor dos direittos da mulher em todas as vertentes do conhecimento humano.
*
São muitas as poetisas na literatura de cordel
atualmente. E elas estão por aqui, por aí e acolá: nas páginas de Face, em
canais de youtube, em blogs específicos e autorais e, em outros cantos e
recantos da cultura popular. Também buscam a inspiração das musas, visto serem
elas próprias “poetisas de musa cheia”.
Navegam por todas essas redes virtuais com muita desenvoltura.
*
“Divina musa!
inspirai-me,
Para narrar uma
história
Que, os menestréis me
contaram.
Mulheres de amor e
glória,
Ilustraram os
romances
De beleza e vitória.”
*
Meus poetas
cordelistas
Hoje, venho vos
narrar,
As histórias do
passado,
De princesas vou
falar,
Vivendo encasteladas,
Querendo o amor
desfrutar
*
Nosso mundo evolui
Hoje a mulher
determina
Que norte dará à vida
Mesmo sendo
nordestina
Não carrega o estigma
Daquela pobre menina.
*
Hoje ela tem
profissão
Escolhe a vida que
quer
Sem preconceito que
diga
Se meretriz, ou
qualquer!
Conquistou a
felicidade
O orgulho de ser
mulher.
Maria
Rosário Pinto
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