O CASTIGO DA SOGRA MALVADA
1
Eu
vou contar uma história
Daquelas
de antigamente
Que
ouvi quando criança
E
guardei na minha mente
Foi
Tia Isa quem contou
E
eu agora aqui estou
Passando
a história a frente.
2
Sempre
à boquinha da noite
Com
cadeiras na calçada
Sentava-se
minha tia
No
meio da criançada
Que
ouvia com atenção
Detalhes
da contação
De
cada história narrada.
3
Foi
assim que me criei
E
abraço essa tradição
Um
ponto vou aumentando
No
transcorrer da oração
Sem
esquecer a magia
Das
histórias de titia
Nas
calçadas do sertão.
4
Pra
não quebrar a magia
Desse
jeito de contar
Vou
imitar minha tia
No
modo de iniciar
Descrever
como ela fez
Repetindo:
ERA UMA VEZ
Para
a história começar.
5
Era
uma vez uma mãe
Que
bem moça enviuvou
Tinha
somente um filhinho
Dele
muito bem cuidou
Era
a razão da sua vida
Para
a criança querida
Carinho
nunca faltou.
6
Um
bom menino ele era
Sempre
muito obediente
Auxiliava
sua mãe
Não
fugia do batente
Viviam
em harmonia
Um
do outro companhia
O
que a deixava contente.
7
O
tempo foi se passando
O
bom menino cresceu
Seu
mundo ficou maior
A
mãe logo percebeu
E
assim viviam em paz
Pois
tornou-se um bom rapaz
O
filho que Deus lhe deu.
8
Quando
o filho já rapaz
Começou
a namorar
Tirou
da mãe o sossego
Por
ela não aceitar
Mais
uma mulher na vida
Da
criança tão querida
Do
seu menino exemplar.
9
E
cada vez que o mancebo
Um
namoro iniciava
A
velha toda manhosa
Uma
doença inventava
Ele
muito preocupado
Não
saía do seu lado
E
sem namorar ficava.
10
Era
um moço inteligente
Mas
tinha uma mãe sagaz
Uma
mulher egoísta
Que
de tudo era capaz
Para
o filho não perder
De
tudo iria fazer
E
roubou do moço a paz.
11
Para
não aborrecer
Nem
a mãe contrariar
Só
namorava escondido
Coisa
séria nem pensar
Mas
quando chega a paixão
Quem
fala é o coração
E
ninguém pode empatar.
12
Com
o filho da viúva
Foi
isso que aconteceu
Um
dia numa quermesse
Uma
jovem conheceu
Passaram
a namorar
A
mãe quis atrapalhar
Mas
resultado não deu.
13
Era
moça bem-criada,
Donzela
muito bonita
E
tinha nome de Santa
Essa
meiga senhorita
Foi
batizada e crismada
Pelo
pai foi registrada
A
bela Maria Rita.
14
A
viúva a contragosto
A
donzela recebia
Porém
não se conformava
Com
tudo que acontecia
E
até fez um juramento
Acabo
esse casamento
Não
vai demorar dizia.
15
Tratava
a futura nora
Com
desdém, com insolência
Maria
Rita humilhada
Fez
promessa e penitência
O
casório aconteceu
Maria
Rita venceu
Usando
de paciência.
16
A
velha engoliu o choro
Porém
a vingança armava
Na
sua cabeça insana
Dia
a dia arquitetava
Um
plano muito cruel
Com
gosto amargo de fel
Com
sua astúcia contava
17
O
filho mesmo casado
Perto
da mãe foi morar
Apesar
dos contratempos
Não
iria abandonar
A
sua mãe tão querida
Mulher
que lhe deu a vida
E
que não deixou de amar.
18
O
seu trabalho era ingrato
Viajava
o tempo inteiro
Pois
comprava e revendia
Couro
pra fazer dinheiro
Deixava
a mulher sozinha
Tendo
a mãe como vizinha
Sempre
ficava cabreiro.
19
Sempre
que a sogra podia
Da
nora falava mal.
Mas
o marido dizia:
-
Meu amor é especial!
-
Pode ser que sim ou não,
Vamos
ver quem tem razão.
Quem
está certo afinal.
20
-
Minha mulher é honesta
E
tem um bom coração.
-
Você acredita nisso?
-
Porém eu não creio, não!
-
E se você não me aprova
-
Faça com ela uma prova
Vai
ver que tenho razão.
21
-
Arquitete uma viagem
-
Porém volte do caminho
-
De noite você vai ver
-
O que sucede em seu ninho.
O
rapaz mudou de cor
Seu
olhar era de dor
Não
queria ser mesquinho.
22
Entretanto
resolveu
Fazer
o que a mãe queria
Pois
viver cheio de dúvidas
Ele
não conseguiria
O
ciúme lhe encharcava
Mas
ao mesmo tempo achava
Que
a mulher não merecia.
23
Arrumou
a sua viagem
Como
em outras vezes fez
E
beijou a sua amada
Meio
sem jeito, na tez
Pediu
pra nossa Senhora
Proteção
naquela hora
Pra
não se perder de vez.
24
Com
o coração partido
Ele
deixava seu lar
Sem
saber o que seria
Dele
quando regressar
Pela
fresta da janela
A
sua mãe de sentinela
Confiante
a vigiar.
25
A
viúva nem pensou
Que
Deus é onipotente,
Se
o cão, atenta d’um lado,
Deus
do outro está presente
Vestiu-se
para sair
E
seu plano concluir
De
maneira inconsequente.
26
Não
demorou muito tempo
Um
homem apareceu
De
terno e usando chapéu
E
em sua porta bateu
O
moço ficou gelado
Completamente
abalado
E
a tragédia aconteceu.
27
Correu
pra cima do homem
Com
uma arma na mão
Descarregou
a pistola
Tinha
perdido a razão
O
homem caiu de bruços
Gritava
o moço em soluços
Não
aceito traição.
28
Irado
arrombou a porta
E
a mulher puxou sem tino
Arrastou
pelos cabelos
Em
completo desatino
Venha
ver o seu amante
Que
eu matei nesse instante
Você
me fez assassino.
29
A
mulher sem entender
Apavorada
gritava:
-
Eu nunca tive um amante!
Mas
ele não escutava
E
seguia enlouquecido
Pra
porta onde o falecido
Ensanguentado
estava.
30
Quando
chegaram a porta
Ele
soltou a consorte
Desvirou
o traidor
Que
não escapou da morte
De
susto ele desmaiou
Porque
não acreditou
Na
sua falta de sorte.
31
Pois
naquela cena atroz
O
corpo inerte no chão
De
terno e com um chapéu
Lhe
causava comoção
Era
sua mãe querida
Mulher
que lhe deu a vida
Caiu
na própria armação
32
A
pobre Maria Rita
Resolveu
naquela hora
Abandonar
o marido
Que
o seu perdão implora
Mas
ela com os seus ais
Voltou
pra casa dos pais
Para
sempre foi embora.
*
Cordel
de Dalinha Catunda
Ilustração:
Roberto Braga
dalinhaac@gmail.com
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