Li com muita atenção o seu novo cordel MARIA SEM VÉU, aliás como faço
invariavelmente com toda obra que pelas minha mãos passa.
Devo esclarecer que o fato de me expressar por meio privado não estou
vetando a sua publicização, é que tenho algumas hesitações quando me
exponho, seja pela escrita ou oralmente.
Se não faço citações de sábios pode transparecer arrogância,
auto-suficiência ou, opostamente, ignorância quanto a existência
deles.
Percebo que algumas palavras originárias de saberes científicos são
lançadas na mídia e assumem caráter popular e muita vez até mal
empregadas; destaco duas delas: empoderamento e resiliência, sim, vou
lançar mão delas no decorrer desta minha divagação acerca do seu
cordel em foco; mas vou de vagar.
Apresentação e/ou prefácio em folheto de cordel para mim é coisa nova
, salvo melhor juízo, e, a partir da minha constatação, para meu
deleite tem sido recorrente.
Esta 'novidade' quando bem entendida pelos seus executores é, sem
dúvida,um facilitador prévio para que o leitor possa imaginar quão
valorosa é a obra que lhe chegou as mãos. Onde quero chegar? -
Conhecia a poeta Lindicássia Nascimento através de esporádicos
desafios poéticos contigo. Só agora tive a raríssima oportunidade de
sentir a extensão da sua competência, sensibilidade e zelo pela nossa
língua. A sua apresentação tem a dimensão exata, nos limites extremos
e perigosos da prolixidade, que nos empurra para a redundância ou pela
síntese precipitada, mutiladora do pensar alheio.
A lindicássia foi capaz de traduzir o sentimento de todas as Marias,
citadas ou omitidas, a final são tantas!.
São mais de trinta Marias
De procederes distintos
A mais ousada de todas
Revelou muitos instintos.
Longe de ter sido Amélia
Nem uma insossa camélia
A desdenhar dos famintos.
Maria que não aceita
Ser TOCADA como as outras,
Por demais empoderada
Sem se fechar como ostras
Gostei de te vê sem véu
Por isso tiro o chapéu
Sem desprezo pela outras.
A psicologia, a sociologia, a filosofia etc, se apropriaram de maneira
honesta e justa do vocábulo RESILIÊNCIA que tem seu emprego genésico
na física e uso agora, creio que apropriadamente, dizendo que você deu
prova de resiliência ao ser submetida a tantas intempéries sem que se
deformasse, física ou psicologicamente, quando um sem número de outras
Marias com tão menos repuxões apresentaram flacidez de caráter ,
renunciando a essência, que nos faz fortes e singulares.
Por fim, só não hesito em declarar como foi intelectualmente excitante
vê-la despida por inteiro, circulando pelas veredas e estradas que
você mesmo as construiu e pavimentou de POESIA LIBERTÁRIA.
G. O. Aragão. Rio,26 de junho de 2019.
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Texto do Professor Geraldo Oliveira Aragão
Foto do poeta Zé Salvador
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