MELHOR IDADE É O
CACETE
1
Seu Rufino adoeceu
Achei por bem visitar
Não era caso de morte
Mas era de preocupar
Seu lamento era
constante
Queixava-se a todo
instante
Sem parar de
resmungar.
2
A sua maior doença
Era seu inconformismo
Foi homem namorador
E agora com reumatismo
Sem poder ir vadiar
Passa o dia a reclamar
Praticando o
derrotismo.
3
Eu tentei mudar a
prosa
Pra trazer animação
Entretanto seu Rufino
Era só reclamação
Desembestou a falar
Eu tive então que
escutar
A sua lamentação.
4
Confesso que tive dó
Estava de fazer pena
Mas com a língua
afiada
Repetia a cantilena
E cheio de rabugice
Metia o pau na velhice
Que não chegava serena.
5
Foi o jeito eu me
calar
E preparar os ouvidos
Para ouvir o pobre
idoso
Com seus ais e seus
gemidos
Pois paciência eu
tinha
Para ouvir a ladainha
E clamores repetidos.
6
E vocês vão ver agora
O rosário de amargura
Que desfia seu Rufino
Essa pobre criatura
Em cada depoimento
Que lhe sopra o
pensamento
Nessa atual conjuntura
7
A velhice quando chega
Não pede autorização
Massacra o pobre do
homem
Maltratando o cidadão
Pra disfarçar a
verdade
Chamam de melhor idade
Mas isso é só gozação.
8
Chamar de melhor idade
A chegada da velhice
É querer fazer de
besta
Ou usar de gaiatice
Já eu chamo humilhação
Fazer um pobre ancião
Ouvir essa cretinice.
10
Quando
aparece a desgraça
O
velho fica na mão,
Desce
pinto, arria o saco
Só
sobe mesmo a pressão
E
capim novo é besteira
Só
dá mesmo é caganeira
Complica
a situação.
11
Uma coisa vou dizer
Mesmo sem querer falar
Quando o velho pinto
abaixa
Nem vodu pra levantar,
O coitado de tão fraco
Repousa em cima do
saco
Só se mexe pra mijar.
12
Meu
pai só me apresentava
Cheinho
de animação
Este
aqui é meu rebento
E
afirmava é meu varão
Hoje
virei foi piada
A
vara que tenho armada
É
tão somente um bastão
13
Um dia deste a mulher
Passou pertinho de mim
Vi que o pinto deu
sinal
Eu pensei até que
enfim
Chamei a mulher pra
junto
Ela disse: Esse
defunto
Não dá mingau ao Soim.
14
A barriga vai
crescendo
A paciência se manda
O passo vai encurtando
Devagar a gente anda
A mulher passa a ter
voz
E acaba virando algoz
Pois é ela quem
comanda.
15
O cabra quando
envelhece
Paga os pecados que
tem
Quando peida
descuidado
A merda aproveita e
vem
Não controla o
intestino
E vive esse desatino
Pois da velhice é
refém.
16
Quando se sente
contente
Na hora que vai sorrir
Vem um peido atrás do
outro
Na sequência a
escapulir
E pra chatear também
Da garganta logo vem
A vontade de tossir.
17
Quando a dentadura
afrouxa
É preciso ter cuidado
O pinto então nem se
fala
É bica sem cadeado
Sem carrapeta a
torneira
Fica só na pingadeira
E o velho acaba mijado.
18
Meu perfumoso tabaco
Eu não posso mais
cheirar
O cheirinho de
imburana
Faz o velho espirrar
E nisso o peido
enxerido
Chega com seu
estampido
Só pro velho envergonhar.
19
Sempre faço um alarido
É quando eu resolvo
ler
Os óculos nunca acho
E se você quer saber
Juízo de véi não
presta
Quando passo a mão na
testa
Vejo o bicho aparecer.
20
A comida Deus me livre
Até parece castigo
Tem quer ser com pouco
sal
Sendo carne não
mastigo
É leite papa e mingau
Pra variar um curau
Vou acabar num jazigo.
21
Quando vejo uma morena
Passando no requebrado
Eu passo a mão no
bigode
Com saudade do passado
E penso: Já fui bom
nisso
Mas hoje sou submisso
Pois estou debilitado.
22
Tem dias que amanheço
Que nem o cão me
aguenta
Teimando por qualquer
coisa
Mas a mulher logo
inventa
Um jeito de me acalmar
Já chegou até jogar
Um copo de água benta.
23
O juízo fica pouco
Com toda sinceridade
E o povo besta dizendo
Que isso é melhor idade
Estou sempre
resmungando
Pois acho que estão
mangando
Da nossa senilidade.
24
Fiquei com dor de
cabeça
Com tanta reclamação
Contudo não vou tirar
De Seu Rufino a razão
Mas também posso
afirmar
Velho só não vai ficar
Quem antes for pro
caixão.
*
Cordel de Dalinha
Catunda
Xilo de Maércio Siqueira
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