CORDEL DE SAIA
1
A mulher faz diferença
No cenário do cordel
Conhece bem seu papel
E no palco tem presença
A musa roga licença
Para iniciar seu canto
Sabe escrever com encanto
Enaltecendo a cultura
Ornando a literatura
Em todo e qualquer recanto.
2
Para o seu cordel fazer
A mulher se preparou
Ela se capacitou
Garanto e posso dizer
Fez e faz por merecer
Esse lugar conquistado
Pois já ficou comprovado
Que seu nome é competência
Das regras tomou ciência
Tem currículo aprovado.
3
É cheio de inovação
O Cordel vestindo saia
Lá no alto feito arraia
Faz a sua evolução
Não esquece a tradição
Traz de volta a cantadeira
Dando voz a cirandeira
Com seus trajes coloridos
Os aplausos repetidos
Saúdam essa bandeira.
4
Na peleja virtual
A mulher, bonito faz
Demonstra que é capaz
Destemida e atual
Se um dia foi desigual
O mundo cordeliano
Na saia ela botou pano
Para rodar o babado
Espantar o mau olhado
E seguir sem desengano.
5
Na boca da cordelista
Renasce o cordel cantado
Por muitos apreciado
É imensa a nossa lista
A mulher está na pista
Faz graça na cantoria
Encara bem a porfia
Na hora de pelejar
Canta sem titubear
Agindo traz alegria.
6
É a mulher nordestina
A que canta alegremente
Os versos que tem na mente
Com sorriso de menina
Se junta e não desatina
Para dar o seu recado
Bota o cordel no tablado
Nos cabelos uma flor
Sabe que tem seu valor
E pra ela tem mercado.
7
Nosso cordel feminino
Nosso cordel de mulher
Não é de meia-colher
É arte de quem tem tino
E usa tempero fino
Para os versos temperar
Assim consegue agradar
Quem gosta do que é bom
Por não ter medo do tom
Da fêmea a versejar.
8
Hoje já vejo calcinha
Lado a lado com cueca
Em bancas ou cordelteca
Uma com outra se alinha
Pois antes só homem tinha
Esse lugar ocupando
Mas a coisa foi mudando
Pra nossa felicidade
Chega, enfim, a igualdade
De gênero se irmanando.
9
Ser cantada ou escrachada
Ou ser musa de poeta
Da mulher não era a meta
Eu não estou enganada
Sem se fazer de rogada
Ela então se resolveu
E seu cordel escreveu
Dando fim a tirania
Nasceu cordel de Maria
Cresceu e sobreviveu.
10
Sem drama e sem salseiro
O homem não relutou
A mulher ele aceitou
Acabou sendo parceiro
Age no mesmo terreiro
Mas no fundo a gente sente
Que ainda é diferente
A condição feminina
O homem sempre termina
Com vantagens, claramente.
11
Com decote ou sem decote
A mulher chega e abusa
Enfeita sacola e blusa
Canta dança e dá pinote
Perfuma bem o cangote
Em cada apresentação
Faz a sua saudação
Sempre em alto e bom som
Com a boca de batom
Capricha na louvação.
12
Louva a Matuta fogosa
Que se vestia de chita
Botava laço de fita
Só para ficar mimosa
Louva a cabocla cheirosa
Que vivia no sertão
E dançava São João
Nos bons tempos de fogueira
Toda jeitosa e faceira
E seguindo a tradição.
13
Louva a famosa Maria
Parceira de Lampião
Que gostou do Capitão
E largou sua moradia
Pra viver como queria
Ao lado do cangaceiro
Sua paixão o parceiro
Que cruzou em seu destino
Um romance nordestino
Do casal aventureiro.
14
Louva a mulher aguerrida
Que pelo mundo se embrenha
Que é Maria da Penha
Que não desistiu da vida
E disso ninguém duvida
É verdade absoluta
É comandante da luta
Que favorece a mulher
E pelo o que faz requer
Respeito a sua conduta.
15
Viva a mulher cordelista
Que inovou no cordel
Que faz versos à granel
No assunto é estilista
Sempre tem nova conquista
É artesã da cultura
Agrega a literatura
Poesia e artesanato
Entrelaça em cada ato
Subsídios pra leitura.
16
A fêmea que se escondia
Nome e sobrenome tem
Faz o cordel e faz bem
É membro de academia
No mundo da poesia
Que hoje se descortina
Com a verve feminina
De sortilégio replena
A mulher se mostra plena
Escreve, assume e assina.
*
Xilo de Jefferson Campos
*
Dados da autora
Maria de Lourdes Aragão Catunda, conhecida como Dalinha
Catunda, nasceu
em Ipueiras - Ceará, no dia 28 de outubro de 1952, e reside
no Rio de Janeiro.
Ocupa a cadeira 25 da Academia Brasileira de Literatura de
Cordel - ABLC, que tem
como patrono o poeta e folclorista cearense, Juvenal Galeno.
Membro correspondente
da Academia Ipuense de Letras, Ciência e Artes – AILCA.
Sócia benemérita da
Academia dos Cordelistas do Crato - ACC. É sócia benemérita
da Sociedade dos Poetas de Barbalha. Como colaboradora, tem textos publicados
nos principais jornais cearenses: O Povo e Diário do
Nordeste.
Escreve no Jornal Gazeta de Notícias, da região do Cariri
cearense.
Escreve no JBF – Jornal da Besta Fubana
Dalinha Catunda é declamadora de cordel e, como tal, já
participou da FLIT - Feira
Literária Internacional do Tocantins e da FLIP – Festa
Literária Internacional de Paraty.
Há sete anos promove o ENCONTRO NACIONAL DE POETAS DE CORDEL
EM IPUEIRAS
Criou o blog Cordel de Saia onde agrega as mulheres do
cordel e criou ainda o grupo CIRANDEIRAS DO CORDEL
Realiza um amplo trabalho de divulgação da Literatura de
Cordel, em sites e blogs.
Administra os blogs:
www.cantinhodadalinha.blogspot.com
www.cordeldesaia.blogspot.com
contato:dalinhaac@gmail.com
Rio de Janeiro, 05 de janeiro de 2020
Xilo de Jefferson Campos
.Poesia fascinante. Delicia de leitura.
ResponderExcluir.
Saudações poéticas
queria pedir licença pra usar sua ideia de cordel de saia
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