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terça-feira, 4 de agosto de 2020

CORDEL DE SAIA - Cordel de Dalinha Catunda


 

 CORDEL DE SAIA

1

A mulher faz diferença

No cenário do cordel

Conhece bem seu papel

E no palco tem presença

A musa roga licença

Para iniciar seu canto

Sabe escrever com encanto

Enaltecendo a cultura

Ornando a literatura

Em todo e qualquer recanto.

2

Para o seu cordel fazer

A mulher se preparou

Ela se capacitou

Garanto e posso dizer

Fez e faz por merecer

Esse lugar conquistado

Pois já ficou comprovado

Que seu nome é competência

Das regras tomou ciência

Tem currículo aprovado.

3

É cheio de inovação

O Cordel vestindo saia

Lá no alto feito arraia

Faz a sua evolução

Não esquece a tradição

Traz de volta a cantadeira

Dando voz a cirandeira

Com seus trajes coloridos

Os aplausos repetidos

Saúdam essa bandeira.

4

Na peleja virtual

A mulher, bonito faz

Demonstra que é capaz

Destemida e atual

Se um dia foi desigual

O mundo cordeliano

Na saia ela botou pano

Para rodar o babado

Espantar o mau olhado

E seguir sem desengano.

5

Na boca da cordelista

Renasce o cordel cantado

Por muitos apreciado

É imensa a nossa lista

A mulher está na pista

Faz graça na cantoria

Encara bem a porfia

Na hora de pelejar

Canta sem titubear

Agindo traz alegria.

6

É a mulher nordestina

A que canta alegremente

Os versos que tem na mente

Com sorriso de menina

Se junta e não desatina

Para dar o seu recado

Bota o cordel no tablado

Nos cabelos uma flor

Sabe que tem seu valor

E pra ela tem mercado.

7

Nosso cordel feminino

Nosso cordel de mulher

Não é de meia-colher

É arte de quem tem tino

E usa tempero fino

Para os versos temperar

Assim consegue agradar

Quem gosta do que é bom

Por não ter medo do tom

Da fêmea a versejar.

8

Hoje já vejo calcinha

Lado a lado com cueca

Em bancas ou cordelteca

Uma com outra se alinha

Pois antes só homem tinha

Esse lugar ocupando

Mas a coisa foi mudando

Pra nossa felicidade

Chega, enfim, a igualdade

De gênero se irmanando.

9

Ser cantada ou escrachada

Ou ser musa de poeta

Da mulher não era a meta

Eu não estou enganada

Sem se fazer de rogada

Ela então se resolveu

E seu cordel escreveu

Dando fim a tirania

Nasceu cordel de Maria

Cresceu e sobreviveu.

10

Sem drama e sem salseiro

O homem não relutou

A mulher ele aceitou

Acabou sendo parceiro

Age no mesmo terreiro

Mas no fundo a gente sente

Que ainda é diferente

A condição feminina

O homem sempre termina

Com vantagens, claramente.

11

Com decote ou sem decote

A mulher chega e abusa

Enfeita sacola e blusa

Canta dança e dá pinote

Perfuma bem o cangote

Em cada apresentação

Faz a sua saudação

Sempre em alto e bom som

Com a boca de batom

Capricha na louvação.

12

Louva a Matuta fogosa

Que se vestia de chita

Botava laço de fita

Só para ficar mimosa

Louva a cabocla cheirosa

Que vivia no sertão

E dançava São João

Nos bons tempos de fogueira

Toda jeitosa e faceira

E seguindo a tradição.

13

Louva a famosa Maria

Parceira de Lampião

Que gostou do Capitão

E largou sua moradia

Pra viver como queria

Ao lado do cangaceiro

Sua paixão o parceiro

Que cruzou em seu destino

Um romance nordestino

Do casal aventureiro.

14

Louva a mulher aguerrida

Que pelo mundo se embrenha

Que é Maria da Penha

Que não desistiu da vida

E disso ninguém duvida

É verdade absoluta

É comandante da luta

Que favorece a mulher

E pelo o que faz requer

Respeito a sua conduta.

15

Viva a mulher cordelista

Que inovou no cordel

Que faz versos à granel

No assunto é estilista

Sempre tem nova conquista

É artesã da cultura

Agrega a literatura

Poesia e artesanato

Entrelaça em cada ato

Subsídios pra leitura.

16

A fêmea que se escondia

Nome e sobrenome tem

Faz o cordel e faz bem

É membro de academia

No mundo da poesia

Que hoje se descortina

Com a verve feminina

De sortilégio replena

A mulher se mostra plena

Escreve, assume e assina.

*

Xilo de Jefferson Campos

*

Dados da autora

Maria de Lourdes Aragão Catunda, conhecida como Dalinha Catunda, nasceu

em Ipueiras - Ceará, no dia 28 de outubro de 1952, e reside no Rio de Janeiro.

Ocupa a cadeira 25 da Academia Brasileira de Literatura de Cordel - ABLC, que tem

como patrono o poeta e folclorista cearense, Juvenal Galeno. Membro correspondente

da Academia Ipuense de Letras, Ciência e Artes – AILCA. Sócia benemérita da

Academia dos Cordelistas do Crato - ACC. É sócia benemérita da Sociedade dos Poetas de Barbalha. Como colaboradora, tem textos publicados

nos principais jornais cearenses: O Povo e Diário do Nordeste.

Escreve no Jornal Gazeta de Notícias, da região do Cariri cearense.

Escreve no JBF – Jornal da Besta Fubana

Dalinha Catunda é declamadora de cordel e, como tal, já participou da FLIT - Feira

Literária Internacional do Tocantins e da FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty.

Há sete anos promove o ENCONTRO NACIONAL DE POETAS DE CORDEL EM IPUEIRAS

Criou o blog Cordel de Saia onde agrega as mulheres do cordel e criou ainda o grupo CIRANDEIRAS DO CORDEL

Realiza um amplo trabalho de divulgação da Literatura de Cordel, em sites e blogs.

Administra os blogs:

www.cantinhodadalinha.blogspot.com

www.cordeldesaia.blogspot.com

contato:dalinhaac@gmail.com

Rio de Janeiro, 05 de janeiro de 2020

Xilo de Jefferson Campos


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