SÃO JOÃO NA ROÇA
As fogueira ta chegando,
Eu to me preparando,
Pro mode dançar mas tu.
Vai ser um desmantelo
Nós dois naquele terreiro,
Na base do anarriê.
Na base do anavantu.
Já comprei teu chapéu de palha,
Tu camisa estampada.
Tua calça tá remendada,
Como manda a tradição.
Encomendei um corte de chita,
Dois laço encarnado de fita,
Quero ser a matuta mais bonita,
Nessa festa de São João.
Vai ser grande a alegria,
Nós dois dançando quadria,
Junto com nossa famia,
Que num arreda pé do sertão.
*
Texto e foto de Dalinha Catunda
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À Diretoria do G.R.E.S Acadêmicos do Salgueiro
ResponderExcluirO meu nome é Sávio Pinheiro, sou médico, cordelista, cearense, e membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Achei o samba-enredo de vocês muito bom, e, apesar, do samba não exigir um perfeccionismo na métrica, achei que fizeram um trabalho de boa qualidade. Com o intuito apenas de contribuir e participar deste momento histórico, ouso sugerir algumas opiniões na letra do samba, sem, em nenhum momento, modificar o seu sentido, em nome desta arte centenária, que é a Literatura de Cordel. Sucesso na organização deste magnífico evento.
Minha filha, meu senhor,
Deixa eu me apresentar
Sou poeta, e o meu valor,
Vai, na avenida, passar
Basta imaginação,
Um pouco de inspiração,
Que eu começo a versejar.
Vou cantar a minha arte,
Que nasceu bem lá distante
Num lugar que hoje é parte
Da nossa origem errante
Vim das bandas da Europa
Nas feiras, trazendo a tropa.
Era demais importante!
Foi assim, que, o mar, cruzei
Na barca da encantaria
Chegou por aqui um Rei
Com bravura e poesia
Carlos Magno e o os doze pares
Desfilando pelos mares
Da mais real fidalguia.
E veio toda a nobreza
Que um dia eu imaginei
Rainha, duque, princesa
E até quem eu não chamei:
Um medonho de um dragão
Irreal assombração
Dessa corte que eu sonhei.
Também tem causo famoso,
Que nasceu lá no Oriente,
De um tal misterioso
Pavão alado imponente,
Que cruza o céu de relance
Dois jovens, e um só romance
Vencendo o Conde inclemente.
E todas essas histórias
Renascem lá no sertão,
Onde vive na memória
O eterno Lampião
E não houve um brasileiro,
Que de Antônio Conselheiro
Não tivesse informação.
Pra viajar no meu verso
É preciso ter coragem
Vai que um bicho perverso
Surge que nem uma imagem
Nas matas, sertão afora,
Lobisomem, caipora,
Que medo dessa visagem.
Pra findar o rebuliço
Rezar é a solução!
Valei-me meu "padim" Ciço!
Vá de retro, tentação!
Nossa Senhora eu não quero
(Tô sendo muito sincero)
Cair nas garras do cão!
E não é que o santo é forte?
Cheguei ao céu divinal
É tamanha a minha sorte
A minha vitória, afinal,
É cantar com alegria
Fazer versos todo dia
Na terra do carnaval.
Ao ver chegar a tal hora
Da minha "alegre" partida
Saudade, palavra agora
Tem posição garantida
Mas não se avexe meu irmão,
Que hoje a coroação
Acontece é na avenida.
Pois eles hão de herdar
Todo esse sertão sonhado
Monarcas que vão reinar
Na corte do Sol dourado
Poetas de tradição
Recebam de coração
Um cordel Branco e Encarnado.
E agora, eu vou sem medo
Fazer festa "de repente".
Vai nascer um samba-enredo
Para animar toda a gente.
Afinal, não sou melhor,
Muito menos o pior,
Sou um poeta diferente!
*
Renato Lage, Márcia Lage, Departamento Cultural
Fotos: Vicente Almeida e Gustavo Mello.